sábado, 11 de outubro de 2008

Carta aberta a um irmão separado

Carta aberta a um irmão separado

Queridos irmãos:

Aqui lhes envio uma carta que escrevi pensando num irmão separado.
“Antes de mais nada quero dizer-te, sinceramente, que te considero como um verdadeiro irmão meu e que te aprecio e te admiro por muitas coisas boas que vi em ti e em tua igreja. Admiro teu desejo de dar a conhecer Cristo e tua entrega...De verdade, muitas vezes senti em meu coração uma santa inveja por teu zelo apostólico.
Naturalmente, há também certas coisas de que não gosto em tua atuação. Falei disto em várias de minhas cartas anteriores. De todos os modos, em qual família não existe problemas ou mal-entendidos? O que quero esclarecer agora é isto: “Eu te admiro e te aprecio como um verdadeiro irmão em Cristo”. Na realidade, o que nos une é bem profundo:
- Tu e eu cremos igualmente no mesmo deus, Criador, Providente e Pai amoroso. E isso, por si só, já é muito num mundo tão materialista e cheio de pessimismo.
- Tu e eu cremos igualmente em Jesus Cristo como: o”Caminho a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), o único Salvador, Senhor e Mediador entre nós e o Pai.
- Os dois amamos igualmente e estudamos a Bíblia, procurando descobrir nela a vontade de Deus.
Há muitas coisas mais que nos unem. Mas eu quis sublinhar somente as mais importantes, para que percebamos que, em vez de nos fixarmos no que nos divide, aprendamos a fixarmo-nos melhor no que nos une, para procurar viver o mandamento novo que Jesus nos deixou, com sinceridade e sem exclusivismo. “Amem-se uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15,12).

Estamos separados
Sim, por desgraça, estamos separados. O pecado nos dividiu. Dilaceramos o corpo de Cristo. Cristo está quebrado por nossa culpa e pela culpa de nossos antepassados. O adversário nos venceu. Em lugar de lutar juntos para melhorar a Igreja, cada um quis fazê-lo a seu modo, afastando-se do irmão. O sonho de Cristo, expressado com tanta insistência na vigília de sua paixão e morte, esfumou-se.
“Que todos sejam um,
como tu, Pai, estás em mim e eu em ti.
Sejam também eles um em nós:
assim o mundo crerá
que Tu me enviaste” (Jo 17,21).
E como conseqüência, por causa de nossas divisões, muitos chegam a rejeitar Cristo e a odiar qualquer religião, privando-se assim desta grande riqueza. Por causa de nossas divisões, nossas cidades estão internamente divididas e debilitadas em seu espírito comunitário. E tudo isso, por nossa culpa.
Que grande responsabilidade temos, frente ao mundo por nossas divisões! “Assim o mundo crerá que Tu me enviaste” (Jo 17,21), disse Jesus. E como vai crer se estamos desunidos?
Ao estarmos divididos, muitos não acreditam em Cristo, de modo que, em vez de ser um sinal de que Cristo é o enviado de Deus, representamos, mediante nossa divisão, uma pedra de tropeço para os que quisessem aproximar-se dele.
Muitos pensam: “Quero buscar a Deus, talvez o cristianismo me dê a chave. Mas...Outro lhe contesta: Observe! Os próprios cristãos estão divididos entre si e se odeiam!...É melhor buscar noutra parte”. E pode ser que deixe de buscar para sempre, decepcionando com tudo e com todos.
Este problema da divisão já apareceu desde o princípio, quando os apóstolos ainda vivam. De modo que não podemos jogar a culpa numa determinada pessoa ou instituição. Por si mesmo, o homem é pecador e tente a afastar-se de Deus e de seu irmão. Pode ser por inveja, orgulho, interesses pessoais, etc, para formar um grupo à parte e sentir-se superior. Tudo o mais é puro pretexto. Na realidade, a vontade de cristo é muito clara: “Que todos sejam um” (Jo 17,212). O que se afasta, para formar outro grupo, tem que saber claramente que está pondo-se contra a vontade expressa de Cristo. Jesus quer a unidade de todos os que crêem em seu nome.

De onde vem a divisão?
A divisão vem do pecado e do demônio. “Cada um vai proclamando: Eu sou de Paulo, eu sou de Apolo, eu sou de Pedro, eu sou de Cristo. Por a caso Cristo está dividido?” ( 1Cor1,12-13). “Meus filhinhos, é a última hora e eu lhes disse que teria que chegar o Anticristo; na realidade, já vieram vários anticristos, por onde comprovamos que esta é a última hora. Eles saíram dentre nós mesmos, ainda que realmente não fossem dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, teriam ficado conosco. E ao sair eles, vimos claramente que entre nós nem todos eram dos nossos” (1Jo 2,18-19).
Irmão em Cristo: lembra que não é minha intenção ofender-te. Quero apenas que reflitas, de maneira mais devagar sobre a citação bíblica anterior. Se achas que não é para ti, não te preocupes. Então esta reflexão poderá servir para outros. Muitos dizem: “Quando eu era católico era mau, me embriagava, batia na minha mulher, etc. Quando deixei a religião católica e entrei nesta nova religião, encontrei Cristo e mudei de vida”.
Agora minha pergunta é a seguinte e quisera que a respondesse com toda sinceridade: “Antes de mudar de religião, conhecias de verdade o catolicismo? Se o conhecias procuravas vivê-lo? Ou talvez abandonaste o catolicismo antes de tê-lo conhecido e vivido? ”Não quero julgar-te nem culpar-te de nada. Para mim, as palavras de Jesus: “Não julguem e não serão julgados” (Lc 6,37) são lei. Quero somente dizer-te isto: Se antes de conhecer e viver o catolicismo mudaste de religião, aplica-te àquela frase do Apóstolo que diz: “Tu não eras dos nossos. Se tivesses sido dos nossos, terias ficado conosco. Quando saíste, vimos claramente que entre nós, todos não eram dos nossos” (1Jo 2,19).
E este problema continua ainda. Por causa de tantos maus exemplos presentes nas Igreja, por falta de bons evangelizadores e frente à triste realidade de uma massa que se chama católica, carente de instrução e vivência cristã, muitos se aproveitam para desacredita-la e atrair pessoas para seus distintos grupos. Fazem isto com sinceridade? Por interesse? Por orgulho? Por ódio contra a Igreja Católica? Por motivos políticos, procurando adormecer as consciências e assim deter a caminhada da Igreja católica em favor dos direitos fundamentais da dignidade humana e da igualdade entre os povos?
Acredito que há de tudo. Só deus conhece o coração do homem e sabe por quais motivos cada qual age. Minha intenção é colocar-te de sobreaviso, par que não acredites facilmente em qualquer pessoa que te fale muito bonito sobre Cristo, perseguindo outros fins reconhecidos ou não abertamente. Tu, obedece à tua consciência. Se estás convencido de que andas bem, segue adiante segundo tua consciência e sem temor. Deus julga o coração. Se és sincero contigo mesmo e buscas a verdade, não tenhas medo. Deus te ajudará. Reza muito e continua buscando a vontade de Deus. Talvez estas cartas que escrevo poderão te ajudar em alguma coisa.
Não obstante o anterior, eu, por minha parte, percebo perfeitamente que para alguns, que trabalham incansavelmente para conseguir adeptos, “a religião é puro negócio” (1 Tm 6,5). É muito evidente que há outros interesses em jogo. Pode ser o afã de sobressair, o espírito de contradição e na realidade, não faltam os que se prestam a este jogo sujo de dividir os cristãos pelo interesse quer seja de conseguir coisas ou dinheiro porque, como disse São Paulo: “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males” (1Tm 6,10).
A este propósito recordo as palavras de São Paulo: “alguns são levados pela inveja e querem fazer-me a competição mas, afinal, que importa que uns sejam sinceros e outros hipócritas? De todos os modos, Cristo é anunciado e isso me alegra, e continuarei alegrando-me! ( Fil 1,15-18).
Apesar das forças destrutivas e dos fanatismo que agem neste mundo, estou convencido de que o sonho de Cristo vai realizar-se algum dia. A verdade tem que abrir caminho; se somos dóceis aos impulsos do espírito, chegar-se-á à unidade. Referente a este tema, quisera contar-te, se não o sabes, que hoje em dia a própria Igreja Católica tem posições muito distintas para com vocês das que tinha faz apenas décadas atrás. Hoje estamos avançando para um verdadeiro ecumenismo.

Ecumenismo
É a busca da fraternidade e unidade superando as divisões entre as diferentes igrejas: católicos, ortodoxos, evangélicos. É a busca da unidade que não é o mesmo que uniformidade. Ser diferentes dentro de certos limites, pode ser inclusive enriquecedor. O que prejudica o anúncio do Evangelho é que estejamos separados e freqüentemente divididos, brigados, opostos, um grupo contra outro.
Muito nos pode ajudar uma frase de Santo Agostinho: “Nas coisas essenciais, reine a unidade, nas duvidosas, a liberdade e em tudo, a caridade”. De fato o movimento Ecumênico deu os primeiros passos entre os missionários protestantes. A Igreja Católica entrou nele posteriormente e hoje o Papa pede aos católicos do mundo inteiro para avançar nesta direção e terminar com o triste espetáculo que oferece ao mundo os cristãos que se desconhecem e que se enfrentam às vezes, em vez de apresentar-se unidos como verdadeiros irmãos.

O que é Ecumenismo?
Conversão de coração e reconhecer o bom que há em outras igrejas.
Alegrar-se pelo muito que temos em comum.
Procurar conhecer-nos mutuamente sem preconceitos nem ingenuidades.
Colaborar como irmãos em tudo o que ajuda à construção do Reino.
Tratar as outras igrejas como gostaríamos que nos tratassem.
Orar pela unidades das igrejas.
Buscar a verdade juntos, como um desejo sincero de ser fiéis a Jesus.
Procurar uma profunda conversão do coração.

O que não é Ecumenismo?
-Uma estratégia e um oportunismo.
-Uma grande confusão entre todas as igrejas.
-Um gesto simpático a fim de seduzir o outro.
-Aceitar sem espírito crítico o que vem de outros grupos religiosos.
-Transigir no essencial só por educação e cortesia.

Hoje depois de dois mil anos
do mandato do Senhor
constatamos com dor
que ainda estamos separados.
Deus nos chama a perdoar-nos
e a avançar em paz e união
deixemos a divisão
o rancor e açoitamento
e façamos um mundo novo
onde reine o amor.

Há uma frase de um teólogo protestante que devia fazer-nos meditar:
“Nunca te conformes jamais com o escândalo da separação dos cristãos que tão facilmente proclamam o amor ao próximo mas continuam vivendo separados. Busca ardentemente a unidade do Corpo de Cristo”
(Pastor Roger Schultz).