sábado, 11 de outubro de 2008

Jesus quis uma só Igreja?

Jesus quis uma só Igreja?

Queridos irmãos:

Não é raro escutar dos lábios de algum católico: “Eu amo Jesus mas a Igreja não me importa”. Creio que esta opinião, para muitos, é simplesmente um pretexto para continuar vivendo como “católicos à sua maneira”. Não fazem caso da Igreja, não vão à Missa, não querem preparar-se para receber dignamente os sacramentos, não obedecem à hierarquia eclesiástica; somente quando lhes convém se aproximam da Igreja e dizem que seguem a religião “à sua maneira”.
Outros, não sem sofrimento vão repetindo que sua aspiração é amar Cristo mas à margem da Igreja. Eles se separam de sua Igreja porque não vêem uma clara coerência entre o que se diz e o que se faz; sentem que a linguagem e a vida dos católicos estão afastados do Evangelho.
A Igreja não é algo abstrato, somos nós, leigos e pastores, comunidade crente, seu rosto visível. A Igreja é humana e divina ao mesmo tempo. E sabendo que esta Igreja leva em seus membros os sinais do pecado, é preciso que nos perguntemos seriamente: Que Igreja confessamos, em que Igreja cremos, em que Igreja servimos? A resposta é clara: Pertencemos à Igreja que Jesus Cristo sonhou, à Igreja que Jesus Cristo realmente quis. Tudo o que eu digo aqui não é invenção de homens, é Cristo mesmo quem no-lo ensinou. Leiamos com atenção a Bíblia e meditemos juntos os ensinamentos sagrados a respeito de Jesus Cristo e sua Igreja.

O que nos ensina a Bíblia?
No Antigo Testamento, Deus quis santificar e salvar os homens não individualmente, mas quis fazer deles um povo. Dentre todas as raças, Javé Deus escolheu Israel como seu Povo e fez deles um povo. Dentre todas as raças, Javé Deus escolheu Israel como seu Povo e fez uma aliança ou um pacto de amor, com este povo.
Foi lhe revelando sua pessoas e seu plano de salvação no decorrer da história do Antigo Testamento. Tudo isto, entretanto, aconteceu como preparação para a aliança mais nova e mais perfeita que ia realizar em seu Filho Jesus Cristo, isto é, este povo israelita do Antigo Testamento era a figura do novo Povo de Deus que Jesus ia revelar e fundar: a Igreja.

Como Jesus preparou sua Igreja?
1.Jesus começou com o anúncio do Reino de deus. Em seu primeiro ensinamento o Senhor proclamou: “Chegou o tempo, e Reino de Deus está próximo. Mudem de atitude e creiam no evangelho de salvação” (Mc 1,5). Mas o povo de Israel rejeitou Jesus como Messias e Salvador e não aceitou seus ensinamentos. Por isso Jesus começou a formar um pequeno grupo de discípulos e enquanto ensinava à multidão com exemplos, explicou os mistérios do Reino de Deus para seus discípulos (Lc 8,10).
2.Entre os discípulos, o Senhor escolheu doze Apóstolos (enviados) com Pedro como cabeça (chefe). “Os Doze” serão as células fundamentais e as cabeças do novo povo de Israel (Mc 3,13-9 e Mt 19,28). Para os judeus “doze” era um número que simboliza a totalidade do povo eleito (como as doze tribos de Israel). E o fato de que houvesse Doze apóstolos anunciou a reunião de todos os povos no futuro novo Povo de Deus. Jesus preparou seus apóstolos com muita dedicação: iniciou-se no rito batismal (Jo 4,2) , na pregação, no combate contra o demônio e as doenças (Mc 6,7-13), ensinou-lhes a preferir o serviço humilde e a não buscar os primeiros lugares (Mc 9,35), a não temer as perseguições (Mt 10), a reunir-se para orar em comum (Mt 18,19) e a perdoar-se mutuamente (Mt 18,1). E também preparou seus apóstolos para fazer missões dentro do povo de Israel (Mt 10,19). Depois da Ressurreição de Jesus receberam a ordem de ensinar e batizar a todas as nações (Mt 28,19).
3.entre os doze, Pedro é quem recebeu de Jesus a responsabilidade de “confirmar” seus irmãos na fé (Jo 21,15-7). Além disso Jesus o estabeleceu como uma pedra de unidade: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno nada poderão contra ela” (Mt 16,18).
A Pedro, “a rocha” que garantiu a unidade da Igreja, Jesus deu a responsabilidade de chefia sobre a Igreja. É Pedro quem abre e fecha as portas da Cidade celestial e ele tem também em suas mãos os poderes disciplinares e doutrinais: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; o que proíbes aqui neste mundo ficará também proibido no céu e o que permitas neste mundo ficará permitido no céu”.
Jesus encarregou aos Doze a renovação da Ceia do Senhor: “Façam isto em memória de Mim” (Lc 22,19). Deu-lhes também a responsabilidade de “atar e desatar” que se aplicará especialmente ao juízo das consciências (Mt 18,18). “Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoam os pecados de alguém, estes já foram perdoados e se não os perdoam, ficam sem perdoar” (Jo 20,22-23).
4.Estes textos dos evangelhos já revelam a natureza da Igreja, cujo criador e Senhor é Jesus Cristo mesmo. Jesus deu claras indicações de uma Igreja organizada e visível, uma Igreja que será aqui na terra sinal do Reino de Deus. Ademais Jesus quis realmente sua Igreja construída sobre a rocha e quis que sua presença perpetuasse em sua Igreja, pelo exercício dos poderes dos Apóstolos e pela eucaristia. E o poder do Inferno não poderá vencer esta Igreja.

A Igreja nasceu na Páscoa e em Pentecostes
A Igreja, tal como Jesus a quis, é aquela pela qual ele morreu. Com sua morte e ressurreição na Páscoa , Jesus terminou a obra que o Pai lhe encarregou na terra. Mas o Senhor não deixou órfãos os apóstolos (Jo 14,16), enviou-lhes seu Espírito no dia de Pentecostes para reunir e santificar estes homens num Povo de Deus (Jo 20,22).
No dia de Pentecostes foi quando a Igreja de Cristo se manifestou publicamente e começou a difusão do Evangelho entre os povos mediante a pregação (At 2). A Igreja é quem convoca todas as nações num Povo para fazer delas discípulos de Cristo (mt 28,19-20). ( A palavra grega “ecclesia”, que aparece no N.T. 125 vezes, significa em português “assembléia convocada” ou “Igreja”). Os que crerem em Jesus Cristo e forem renascidos pela Palavra de Deus vivo ( 1Pd 1,23) não da carne, mas da água e do Espírito ( Jo 3,5-6), passam a constituir uma raça eleita, um reino de sacerdotes, “uma nação santa”.

A Igreja é o Corpo de Cristo
O Apóstolo Paulo é o autor inspirado que mais esquadrinhou o profundo mistério da Igreja. Quando naquele tempo Saulo perseguia, o próprio Senhor lhe apareceu no caminho de Damasco.
Ali Saulo teve a revelação de uma misteriosa identidade entre Cristo e a mesma Igreja: “eu sou Jesus, o mesmo a quem persegues” ( At 9,5). E em suas cartas, Paulo continua refletindo sobre esta união misteriosa entre Cristo e sua Igreja. Sigamos agora a meditação do apóstolo Paulo sobre Igreja.
A realidade da Igreja como “o Corpo de Cristo” ilumina muito bem a relação íntima, entre a Igreja e Cristo. A Igreja não está reunida somente em torno de Cristo; está sempre unida a Cristo , em seu corpo. Há quatro aspectos da Igreja como “Corpo de Cristo” que Paulo ressalta especificamente.
1.”Um só Corpo”. A Igreja, para o apóstolo Paulo, não é tal ou qual comunidade local; é, em toda sua amplitude e universalidade, um só Corpo (Ef 4,13). É o lugar de reconciliação dos judeus e gentios ( 1 cor 12,13). Ademais esta viva união é mantida pelo pão eucarístico. “Mesmo sendo muitos, todos comemos o mesmo pão, que é um só; e por isso somos um só corpo” (1 Cor 10,17).
2.cristo “é a Cabeça do Corpo que é a Igreja” (Col 1,18). Diz o apóstolo Paulo: “Deus colocou tudo sob os pés de Cristo, para que, estando acima de tudo, fosse Cabeça da Igreja, a qual é seu Corpo” (Ef 1,22). Cristo é distinto da Igreja mas Ele está unido a ela como sua Cabeça. Com efeito, Cristo é a Cabeça e nós somos os membros; o homem inteiro é Ele e nós. Cristo e a Igreja são um só portanto, o “Cristo Total” é Cristo e a Igreja.
3.A Igreja é a Esposa de Cristo. A unidade de Cristo é sua Igreja, Cabeça e membros do Corpo, implica para Paulo também numa relação muito pessoal. Cristo ama a Igreja e deu sua vida por ela (Ef 5,25). Esta imagem joga um raio de luz sobre a relação íntima entre a Igreja e Cristo. “Os dois serão uma só carne. Grande mistério é este, eu lhe digo, com respeito a Cristo e a Igreja” (Ef 5,31-32).
4.O Espírito Santo é o princípio da ação vital em todas as partes do corpo. O Espírito Santo atua de múltiplas maneiras na edificação de todo o Corpo.“Há um só corpo e um só espírito”.
E por Cristo todo o corpo está bem ajustado e unido, em si mesmo por meio da união entre todas as partes; e quando uma parte trabalha bem, tudo vai crescendo e desenvolvendo-se com amor (Ef 4,4). Os diferentes dons do espírito santo (dons hierárquicos e carismáticos) estão ordenados à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo ( 1 Cor. Caps. 12 e 13).


Diversas imagens bíblicas da Igreja
No N.T. encontramos distintas imagens que descrevem o mistério da Igreja. Muitas destas figuras, já estão insinuadas nos livros dos profetas e são tomadas da vida pastoril, da agricultura, da construção, como também da família e dos casamentos. Nesta carta não podemos analisar todas estas figuras que representam a Igreja. Seria demasiado extenso. Quero referir-me somente às imagens mais importantes da Igreja com seus respectivos textos da Bíblia. É uma boa oportunidade para que vocês leiam e meditem pessoalmente com a Bíblia. No N.T. a Igreja é apresentada como: “aprisco ou rebanho” (Jo 10,1-10), “campo e vinha do Senhor” ( Mt 21,33-34 e Jo 15, 1-5), “edifício e templo de Deus” ( 1 Cor 3,9), “cidade santa e Jerusalém Celeste” (Gl 4,26), “nossa mãe e esposa do Coedeiro” (Ap 12,17 e 19,7).