quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Podemos rezar pelos falecidos?

Podemos rezar pelos falecidos?

Queridos irmãos:
Vou contar-lhes um caso que me aconteceu faz algum tempo. Um dia morreu umamigo meu que, quanto à religião, não era de nada, algumas vezes ia à missa e outras ia ao culto dos evangélicos. Quando morreu, os evangélicos o velaram com muitos cantos e louvores e no dia seguinte levaram-no ao cemitério. Como era meu amigo, quis ir ao cemitério para rezar por ele.

Chegando lá, perguntei ao pastor, se me deixava rezar-lhe um responso e me respondeu: "O finado era ovelha de nosso rebanho e nós não rezamos pelos mortos porque a estas alturas de nada lhe servem as orações."Em resumo, não me permitiram rezar o responso e tive que me contentar em rezar em silêncio.Este caso me dá ocasião para nos perguntar: Podemos rezar pelos defuntos? Nossas orações os ajudam?
Qual é a doutrina católica e a evangélica a respeito?
A Doutrina CatólicaA Bíblia nos diz que depois da morte vem o juízo: "Está estabelecido que os homens morram uma só vez e logo vem o juízo" (Hb 9,27). Depois da morte vem o juízo particular onde "Cada um recebe conforme o que fez durante sua vida mortal" (2Cor 5,10).
No fim do mundo terá lugar o "juízo universal" no qual Cristo virá em glória e majestade para julgar os povos e nações.É doutrina católica que no juízo particular cada pessoa se destina a uma destas três opções: Céu, Purgatório ou Inferno.
- As pessoas que em vida tenham aceitado e correspondido ao oferecimento de salvação que Deus nos faz e tenham-se convertido a Ele, e que ao morrer se encontrem livres de todo pecado, se salvam, isto é, vão diretamente ao Céu, reunir-se com o Senhor e começam uma vida de gozo indescritível. "Bem-aventurados os limpos de coração - diz Jesus - porque eles verão a Deus" (Mt 5,8). -Os que tenham rejeitado o oferecimento de salvação que Deus faz a todo mortal ou não se converteram enquanto sua alma estava no corpo, receberão o que eles escolheram: o Inferno, onde estarão separados de Deus por toda a eternidade.
- E finalmente, os que em vida tenham servido o Senhor mas que ao morrer não estejam ainda plenamente purificados de seus pecados, irão ao Purgatório. Ali Deus, em sua misericórdia infinita, purificará suas almas e, uma vez limpos, poderão entrar no Céu, já que não é possível que nada manchado pelo pecado entre na glória: "Nada impuro entrará nela (na Nova Jerusalém)" (Ap21,27).
Aqui surge espontânea uma pergunta cuja resposta é muito iluminadora: Para que estamos neste mundo?
Estamos neste mundo para conhecer, amar e servir a Deus e, mediante isto, salvar nossa alma. Deus nos coloca neste mundo para que colaboremos .com Ele na obra da criação, sendo zeladores deste 'jardim terreno" e para que cuidemos também dos homens nossos irmãos, especialmente daqueles que talvez não receberam tantos dons e "talentos" como nós. Este é o fim da vida de cada homem: Amar a Deus sobre todas as coisas e salvar nossa alma por toda a eternidade.
O que acontece então com os que morrem?Já o dissemos: os que morrem na graça de Deus se salvam. Vão diretamente ao céu. Os que rejeitam a Deus como Criador e a Jesus como Salvador durante esta vida e morrem em pecado mortal se condenam. Também aqui a resposta é clara e coincidente entre católicos e evangélicos.
- Mas, o que acontece com os que morrem em pecado venial ou que não satisfize¬ram plenamente por seus pecados? Aí está a diferença entre católicos e evangélicos. Os católicos acreditam no Purgatório. Segundo nossa fé católica, o Purgatório é o lugar ou estado por meio 'do qual, em atenção aos méritos de Cristo, se purificam as almas dos que morreram em graça de Deus, mas que ainda não satisfizeram plenamente por seus pecados.O Purgatório não é um estado definitivo mas temporário. E vão ali só aqueles que ao morrer não estão plenamente purificados das impurezas do pecado, já que no céu não pode entrar nada que seja manchado ou pecaminoso.
Pois bem, segundo os evangélicos não há Purgatório porque não aparece na Bíblia e Cristo salva todos, menos os que se condenam.Para nós, os católicos há Purgatório e quanto a sua duração podemos dizer que depois que Jesus vier pela segunda vez e se puser fim à história da humanidade, o Purga¬tório deixará de existir e só haverá Céu e Inferno.
Por conseguinte, segundo nossa fé católica, pode-se oferecer orações, sacrifícios e Missas pelos mortos, para que suas almas sejam purificadas de seus pecados e possam entrar quanto antes na glória a gozar da presença divina.
Os evangélicos insistem em que a palavra "Purgatório" é uma pura invenção dos católicos e que nem sequer este nome se acha na Bíblia. Nós argumentamos que tampouco está na Bíblia a palavra "Encarnação" e, no entanto, todos cremos nela. Tampouco está a palavra "Trindade" e todos, católicos e evangélicos, cremos neste mistério. Portanto, sua argumentação não prova nada.
Em definitivo, b porquê desta diferença é muito simples. Eles só admitem a Bíblia, em compensação para nós, os católicos, a Bíblia não é a única fonte de revelação. Nós temos a Bíblia e a Tradição, isto é, se uma verdade foi acreditada de modo sustentado e ininterrupto desde Jesus Cristo até nossos dias é que é dogma de fé e porque o Povo de Deus em sua totalidade não pode equivocar-se em matéria de fé, porque o Senhor se comprometeu com sua assistência.É o mesmo caso da Assunção da Virgem aos céus, que mesmo não estando na Bíblia, a Tradição cristã acreditou e celebrou desde os primeiros tempos, pelo que se converte em um dogma de fé.
Além disto o afirmou a doutrina do Magistério durante os dois mil anos de fé da Igreja Católica.
A tradição da Igreja Católica
A Tradição constante da Igreja, que remonta aos primeiros anos do cristianismo, confirma a fé no Purgatório e a conveniência de rezar por nossos defuntos. Santo Agos¬tinho, por exemplo, dizia: "Uma lágrima se evapora, uma rosa murcha, só a oração chega até Deus". Além disso, o mesmo Jesus diz que "aquele que peca contra o Espírito Santo, não alcançará o perdão de seu pecado nem neste mundo nem no outro" (Mt 12,32). Isto revela claramente que alguma expiação do pecado tem que haver depois da morte e isso é o qu~ chamamos o Purgatório. Em conseqüência, depois da morte há Purgatório e há purificação dos pecados veniais.
O Apóstolo Paulo diz, além disso, que no dia do juízo a obra de cada homem será provada. Esta prova ocorrerá depois da morte: "O fogo provará a obra de cada um. Se sua obra resiste ao fogo, será premiado mas se esta obra se converte em cinzas, ele mesmo terá que pagar. Ele se salvará mas como quem passa pelo fogo" (1 Cor 3,15). A frase: "terá que pagar" não se pode referir à condenação do Inferno, já que daí ninguém pode sair. Tampouco pode significar o Céu, já que ali não há nenhum sofrimento. Só a doutrina e a crença no Purgatório explica e esclarece esta passagem.Mas, ademais, na Bíblia se demonstra que já no Antigo Testamento, Israel orou pelos defuntos. Assim o explica o Livro 11 dos Macabeus (12,42-46), onde se diz que Judas Macabeu, depois do combate orou pelos combatentes mortos na batalha para que fossem libertados de seus pecados. Diz assim: "E rezaram ao Senhor para que perdoasse totalmente de seus pecados aos companheiros mortos". E também em 2 Timóteo 1,1-18, São Paulo diz referindo-se a Onésimo: "O Senhor lhe conceda que alcance misericórdia naquele dia". Resumindo, então, digamos que com nossas orações podemos ajudar os que estão no Purgatório para que logo possam ver-se livres de seus sofrimentos e ver a Deus. Não obstante, como que na prática, quando morre uma pessoa, não sabemos se se salva ou se condena, devemos orar sempre pelos defuntos, porque poderia necessitar de nossa oração. E se eles não a necessitam servirá para outras pessoas, já que em virtude da Comunhão dos Santos existe uma comunicação de bens espirituais entre vivos e defuntos.
As catacumbas
Nas catacumbas ou cemitérios dos primeiros cristãos, ainda existem esculpidas muitas orações primitivas, o que demonstra que os cristãos dos primeiros séculos já ora¬vam por seus mortos. Do século 11 é esta inscrição: "Óh! Senhor, que estás sentado à direita do Pai, recebe a alma de Nectário, Alexandre e Pompeu e proporciona-lhes algum alívio". Tertuliano (ano 160-222) diz: "Cada dia fazemos oblações pelos defuntos". São João Crisóstomo (344-407) diz: "Não em vão os Apóstolos introduziram a comemora¬ção dos defuntos na celebração dos sagrados mistérios. Sabiam eles que essas almas obteriam desta festa grande proveito e grande utilidade" (Homilia a Filipo, N° 4).
Meus amigos e irmãos, creio que lhes ficará bem claro este ponto tão importante de nossa fé. Quem se professe católico não só pode como deve orar por seus defuntos. E aqui cabe uma pergunta: Como queremos que nos lembrem nossos amigos e familiares quando morrermos, com ou sem oração?
Pelo menos entre os católicos, todos dirão que seu desejo é que rezem por eles e que se lembrem deles com a Santa Missa, porque ainda que um católico morra com todos os sacramentos, sempre pode ficar na sua alma alguma mancha de pecado e por isso convém rezar por eles. Este é o sentir da Igreja Católica desde seus começos. No que se refere ao Purgatório deve-se acrescentar que não é como uma segunda oportunidade para que a pessoa estabeleça uma relação com Deus. A conversão e o arrependimento devem acontecer nesta vida.
Nós católicos, pois, não nos contentamos somente com cantar louvores e glorificar a Deus mas elevamos preces a Deus e à Santíssima Virgem por nossos defuntos e com mais razão nos dias imediatos à sua morte.
A oração pelos falecidosOs primeiros missionários que evangelizaram a América introduziram o costume, que ainda perdura em alguns lugares, de reunir -se e fazer um velório que se prolonga por uma semana ou nove dias. Reza-se ainda uma novena na qual os familiares se congregam para acompanhar os parentes e oferecem a Deus orações pelo defunto. Também a Igreja, desde tempo imemorial, introduziu o costume de celebrar o dia 2 de novembro dedicado aos defuntos, dia em que os católicos vão aos cemitérios e, além de levar flores, elevam uma oração por seus seres queridos.
Os evangélicos, em geral, só louvam a Deus pelos favores que Deus concedeu ao defunto. Poucas são as seitas que oram por eles. Em matéria doutrinal, há muita variedade entre uma seita e outra, já que, como interpretam a Bíblia segundo seu livre arbítrio, cada igreja e cada pessoa tem seu próprio critério.
Ao contrário, entre os católicos, sabemos que qualquer texto da Escritura não deve ser objeto de interpretação pessoal mas que a Igreja, inspirada pelo Espírito Santo, nos revela através de seus pastores o verdadeiro sentido de cada texto. E neste sentido, o Papa é a garantia da verdade revelada, isto é, do depósito da Fé. Assim, o Papa nos confirma em que nossa Fé é a mesma dos primeiros cristãos e a mesma que perdurará até o fim dos tempos.
Digamos, para terminar, que os católicos não só podem orar pelos defuntos mas que este é um dever cristão que obriga, especialmente, os familiares e os amigos mais próximos. Orar pelos vivos e pelos defuntos é uma obra de misericórdia. Da mesma maneira que ajudaríamos em vida seus corpos enfermos, assim, depois de mortos, deve¬mos ter piedade deles rezando pelo descanso eterno de suas almas. Entre os católicos a tradição é orar pelos defuntos e no possível celebrar a Santa Missa por seu eterno des¬canso. Diz a Liturgia: "Dá-lhes, Senhor, o descanso eterno e brilhe para eles a luz eterna". Já Santo Agostinho disse: "Uma lágrima se evapora, uma flor murcha, só a oração chega ao trono de Deus".