sábado, 11 de outubro de 2008

Os Santos e nós

Os Santos e nós

Queridos irmãos católicos,

O Santo Padre beatificou e canonizou uma grande quantidade de homens e mulheres ao longo de toda a Igreja Universal. Com isto a Igreja reconheceu oficialmente seu testemunho de santidade. Desta forma eles se convertem para os crentes num modelo de santidade e em intercessores a nosso favor. É claro que a Igreja Católica não obriga ninguém a invocar e a ter devoção aos santos. Somente os propõe como modelos para serem imitados.
Agora bem, muitos católicos percebem que os irmãos não católicos rejeitam energicamente os santos, dizendo que não necessitamos de outros modelos de santidade, já que temos o modelo de Jesus. E menos necessitamos dos santos como intercessores, pois Cristo é o Único mediador ante o Pai. Muitos católicos não sabem o que responder e estão duvidosos frente a estas opiniões.

1. Que devemos responder aos que pensam assim?
Os irmãos evangélicos dizem: Não precisamos de outro modelo de santidade se já temos o modelo do próprio Jesus. Queridos irmãos: Esta é uma verdade pela metade. Em seguida me vem à mente os textos bíblicos do Apóstolo Paulo: “Para mim a vida é Cristo, e a morte é ganho... Irmãos, sigam meu exemplo e observem também os que vivem de acordo com o exemplo que nós lhes temos dado”. (Fl 1,21 e 3,17). Em outra parte o Apóstolo diz: “Sigam vocês meu exemplo como eu sigo o exemplo de Cristo Jesus”(1Tm 1,16).
Nestes textos vemos claramente que Paulo se coloca a si mesmo como exemplo de seguidor de Cristo, e incita os crentes a serem seus imitadores, como ele o é de Cristo. Tomemos outro exemplo da Bíblia: Maria, a Mãe de Jesus. Ela é a mulher “que Deus bendisse mais que todas as mulheres” (Lc 1,28 e 1,42), como disseram o anjo Gabriel e sua prima Isabel. E no cântico de Maria (Lc 1,46-55), ela se apresenta também como exemplo de humilde servidora e de escrava, “de hoje em diante todos os homens me chamarão bem-aventurada” (Lc 1,48).
A Bíblia, então, põe claramente Maria como modelo de santidade para todas as gerações. E é isso o que a Igreja Católica celebra ao venerar Maria. A veneração a Maria nunca pode ser culto de adoração; a veneração é um culto de honra e de profundo respeito para com a Mãe de Jesus.
Quando lemos com atenção as Escrituras, percebemos que a Bíblia nos oferece muitos modelos de santidade; por exemplo: o apóstolo Tomé, que era um homem com grandes dúvidas sobre a fé mas, que no fim, proclamou Jesus como seu Senhor e seu Deus (Jo 20,26-28). Assim também a Igreja Católica apresenta o exemplo de João Batista que com grande valentia deu testemunho de Jesus até derramar seu sangue pelo Senhor (Mt 14,1-12). De igual maneira, a Igreja Católica apresenta agora os santos de nossos tempos como exemplos de fé cristã. Eles nos assinalam um caminho e muitos vêem neles a graça do Senhor Jesus, que foi tão eficaz em suas vidas. Os santos são para nós verdadeiros modelos a imitar. Eles tiveram uma clara prioridade em sua vida: Jesus Cristo. E é este modelo de fé cristã o que tocou de diversos modos o coração de muita gente. A fé nos santos não é, de maneira nenhuma, um obstáculo à fé em Jesus Cristo, como pensam os irmãos evangélicos, mas um estímulo para seguir a Cristo. São três diferentes modelos de santidade que Deus presenteou à sua Igreja ultimamente.
Naturalmente devemos evitar excessos; os santos não são semideuses e a santidade de tal ou qual pessoa nunca pode obscurecer o seguimento de Cristo. Ao contrário, a verdadeira santidade dos santos sempre anima para uma maior busca de Deus.

2. Os santos como intercessores:
Muitos irmãos evangélicos têm problemas para aceitar os santos como intercessores a nosso favor. Simplesmente dizem que Jesus Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens e que não necessitamos de novos intercessores. “Há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens: Cristo Jesus” (1Tm 2,5; Hb 8,6 e 9,11-14). Nós, os católicos, proclamamos também que Jesus Cristo é o Único Mediador entre Deus e os homens. Mas os santos não são um obstáculo para nos dirigirmos diretamente a Jesus Cristo, a Deus Pai ou ao Espírito Santo. Os santos não nos afastam de Deus; simplesmente eles, com seu exemplo de fé cristã, nos estimulam a nos aproximar-mos de Deus com a única mediação de Jesus Cristo. Agora bem, quando a Igreja Católica diz que os santos são nossos intercessores diante de Jesus Cristo, isto não quer dizer que eles são os que fazem os milagres. É sempre Deus Pai, Jesus Cristo ou Espírito Santo, os que fazem maravilhas entre nós, ainda que os milagres possam ser feitos “por intercessão” destes santos.

3. O exemplo de Maria
Vejamos o exemplo de Maria nas bodas de Cana. É Maria a Mãe de Jesus a que convida discretamente seu Filho para fazer um milagre dizendo: “Já não tem vinho”. E Jesus lhe faz entender que a hora de fazer sinais ainda não chegou. No entanto, pela intercessão de sua Mãe Maria, Jesus faz seu primeiro milagre (Jo 2.1-12). Este é o sentido bíblico da intercessão dos santos ante Deus. Vejamos alguns textos: Moisés ora a Deus pela intercessão de Abraão, Isaac e de Jacó (Ex 32,11-14). Jesus manda seus Apóstolos curar enfermos, ressuscitar mortos, limpar leprosos e expulsar demônios (Mt 10,8). Pedro e João, em nome de Jesus, curam um homem encurvado (At 3,1-10). Na cidade de Trôade, o apóstolo Paulo devolve a vida a um jovem acidentado (At 20,7-11). Quando o apóstolo Pedro passava pela rua, o povo trazia os doentes e os punha em macas para que, ao passar Pedro, pelo menos sua sombra caísse sobre alguns deles, e todos eram curados (At 5,15-16).
Deus fazia grandes milagres por meio de Paulo, tanto que até os lenços ou as roupas que haviam sido tocados por seu corpo eram levados aos enfermos e os espíritos maus saíam destes (At 19,11-12). Todos estes textos nos dizem que Jesus Cristo fazia milagres por meio de seus discípulos. “Vocês receberam este poder de graça; dêem também de graça” disse Jesus (Mt 10,8).

4. Deus aceita a oração dos santos
A Bíblia nos ensina também que devemos ajudar-nos mutuamente com a oração. “A oração dos santos é como perfume agradável ante o trono de Deus” (Ap 8,4). “Agora me alegro, diz o Apóstolo Paulo, no que sofro por vocês, porque desta maneira vou completando em meu próprio corpo o que falta aos sofrimentos de Cristo pela Igreja, que é seu corpo”. Cl 1,24). “A oração fervorosa do homem bom tem muito poder. O profeta Elias era um homem tal como nós, e quando pediu em sua oração que não chovesse, deixou de chover sobre a terra durante três anos e meio e depois quando orou outra vez, voltou a chover e a terra deu sua colheita” (Tg 5,16-18).
“Os quatro seres viventes e os 24 anciãos puseram-se de joelhos diante do Cordeiro. Cada um dos anciãos tinha uma harpa e levavam taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos” (Ap 5,8).
Em todos estes textos notamos que a oração fervorosa ou a intercessão dos santos tem muito poder diante do trono de Deus. Não podemos duvidar de que estes santos, que agora estão diante de Deus, vão interceder por nós, como o fez Moisés ao falar com Deus para aplacar sua ira, invocando Abraão, Isaac e Jacó (Ex 32,13). Ao invocar os santos sempre contemplaremos as virtudes que Deus operou neles. Deus está sempre no mais profundo de nossa invocação ou veneração aos santos. Os santos não nos afastam de Deus, mas nos convidam a colocarmo-nos diretamente em contato com Ele, com a única mediação de Jesus Cristo.

5. Devemos evitar os excessos na veneração dos santos?
É claro que em nossa veneração aos santos devemos evitar os excessos. Por exemplo, existe gente que não busca os santos como um modelo de fé cristã, mas somente como remédio para suas enfermidades, angústias e dificuldades, ou para encontrar um objeto que perdeu. Sabemos muito bem que há pessoas que se aproximam dos santos com uma fé quase mágica. Não nos corresponde julgar os sentimentos de nossos irmãos que têm uma fé fraca. Mas estou certo de que Deus respeita a consciência de cada um. Penso naquela mulher da Bíblia que sofria hemorragias de sangue durante tantos anos, a que se aproximou de Jesus talvez com uma fé mágica, pensando que com apenas um tocar em seu manto se curaria, e a senhora com tanta fé que nos parece meio mágica curou-se. Mas, em seguida, Jesus buscou aquela mulher e quis dar-lhe mais que um simples remédio para suas doenças. Jesus desejava um encontro pessoal com aquela enferma e esclarecer a verdadeira razão de sua cura: a fé. “Filha, foste curada porque acreditaste” (Lc 8,43-48).
Acredito que existe muitos católicos entre nós que se aproximavam de Cristo e dos santos com esta atitude tímida, com esta fé não muito clara, talvez com crenças meio mágicas. Mas não temos direito de humilhar ou esmagar esta pouca fé que o povo simples tem. É um pecado muito grave zombar da fé débil de um de nossos irmãos. Devemos ajudá-los com muito amor e purificar sua fé, como Jesus fez com aquela mulher enferma. Um pouco de fé basta para Deus agir.
Queridos irmãos católicos, termino esta carta dando graças a Deus pelas grandes maravilhas que fez nos santos, e por ter-nos dado o bonito presente de nossos santos latino-americanos. Oxalá que nós, contemplando seus exemplos, consigamos também a santidade.
E termino recordando que a Igreja não obriga ninguém a invocar e a ter devoção aos santos. Isto depende do gosto, da cultura e da liberdade de cada cristão. É um caminho que se oferece, e felizes de nós se o aceitamos com humildade e agradecimento.

Todos somos chamados à santidade?
Sim, todos os batizados, tanto os que pertencem à hierarquia, como os leigos, todos somos chamados à santidade.

Quem são os santos?
Os que já chegaram à pátria e gozam da presença do Senhor. Eles não cessam de interceder por nós, apresentando a Deus – por meio do único Mediador Jesus (1Tm 2,5), os méritos que alcançaram na terra.

Para que Deus nos chama?
Deus nos chama para responder ao desejo natural de felicidade que Ele mesmo colocou dentro de nós. E esta felicidade somente podemos consegui-la com a santidade de vida. O santo é aquele que vive sua vida em plenitude, servindo a Deus e a seus irmãos.

Que é a comunhão dos santos?
A comunhão dos santos significa que assim como todos os crentes formam entre si um só corpo, assim também o bem de uns se comunica a outros.