quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O Ecumenismo é possível?

O Ecumenismo é possível?

Queridos irmãos:
Hoje vamos conversar sobre as possibilidades reais de avançar para um verdadeiro ecumenismo. Mas antes será conveniente precisar alguns conceitos e fazer um pou¬co de história.São duas as grandes divisões que se deram na Igreja católica durante estes dois mil anos: a da Igreja ortodoxa que se separou em 1054 e a dos protestantes em 1517.

Com algumas destas Igrejas chamadas Tradicionais ou Reformadas já há algum diálogo ecumênico e há passos importantes nesta direção. Inclusive várias destas igrejas estão agrupadas, com a Igreja Católica, no Conselho Mundial de Igrejas. Mas não acon¬tece o mesmo com as seitas. Chamamos seitas aos grupos que posteriormente se des¬prenderam destas grandes igrejas separadas e que hoje continuam aparecendo em qual¬quer parte, às vezes, inclusive, sem nenhuma referência a Jesus Cristo. As seitas hoje aparecem como por geração espontânea e são conhecidas também pelo nome de "Movi¬mentos Religiosos Livres e Autônomos".
Como nascem as seitas?
A explosão das seitas em nível latino-americano começou faz uns 30 anos quando Rockefeller realizou um giro por todos os países latino-americanos, a fim de conseguir informação referente à situação da América Latina e na volta informou ao presidente no Congresso dos EE. UU que a Igreja Católica já não era sua aliada válida para seus interesses na América Latina, pelo fato de que se interessava pelos pobres, pelo respeito à pessoa humana e porque era "a voz dos que não tinham voz;', defendendo os que eram injustamente perseguidos.
Esta atitude da Igreja, segundo Rockefeller, revoltava as massas e acarretava perigo de revoluções que conspiravam contra os interesses dos norte- americanos.
Ante esta situação, sugeriu que a infiltração de seitas na América Latina, poderia resistir e debilitar a crescente influência da Igreja Católica sobre as massas. Mais tarde o presidente Nixon, no documento de Santa Fé, insistiu na mesma linha e a partir de então milhares de pastores foram enviados a semear a divisão e o desconcerto nos campos e cidades da A.LE todos lembramos como de repente surgiu grande quantidade de templos Mórmons e dos Testemunhas de Jeová.
Esta foi então uma medida premeditada que somada a outras causas arrastou muitos para as seitas. A isto deve-se acrescentar que esta invasão se produziu quase de repente e a própria Igreja Católica não estava preparada para resistir a sua eficácia. Por outro lado, a Igreja não soube formar, nem delegar a tempo funções aos' leigos compro¬metidos, nem tampouco reinterpretar a tempo a Piedade Popular, o que motivou esta enorme deserção de cristãos de suas filas
Como responder a este desafio?
Nossa missão hoje em dia é formar agentes multiplicadores de evangelização e oferecer caminhos aos leigos para que saibam defender sua fé. A isto todos estamos chamados. Nesta tarefa devemos evitar os extremos, por um lado a intolerância ou agressividade e, por outro, o derrotismo e uma passiva resignação. É difícil definir as seitas. São muitas e muito variadas. Costumam pregar uma piedade fácil e desencarnada, e sem nenhuma relação com os grandes problemas econômicos, sociais e políticos que afetam nosso continente. Em suas pregações costuma estar ausente a denúncia profética. Não assim a Igreja Católica, que convencida de que não se pode amar a Deus sem o amor prático ao homem concreto, pregou o compromisso social e o respeito aos direitos da pessoa humana, motivo pelo qual sofreu muitas vezes o menosprezo dos grandes e poderosos deste mundo.Para citar alguns exemplos de sua expansão, recordemos que no Chile, muitos militares abandonaram a Igreja Católica para aderir às seitas - com a complacência de Pinochet - por causa do compromisso da Igreja com os Direitos Humanos. Na Argentina em 1980 encontravam-se inscritos no registro de cultos mais de 800 grupos de seitas. NoBrasil já passam de 4.000. Na Guatemala, Porto Rico, Honduras e toda América Central se duplicou e triplicou a deserção para as seitas. No Uruguai, o governo militar deu cami¬nho livre à seita Moon que se instalou no centro de Montevidéu com aplicações superio¬res a 200 milhões de dólares. Na Bolívia, Garcia Meza obteve da seita Moon a ajuda para apoderar-se do poder e pouco tempo depois todos os oficiais foram chamados a assistir a cursos de mentalização. Outra causa da expansão das seitas foi a ignorância religiosa de muitos católicos.
São muitas as pessoas que não tiveram acesso a nenhuma cultura religiosa e à primeira sacudida trocam de religião. As seitas aproveitaram além disso os grandes vazios da Igreja Católica que por falta de meios e de pessoas se vê obrigada a deixar grandes áreas com escassa ou nenhuma atenção religiosa.
A voz do Magistério
No ano de 1992, os bispos reunidos em Santo Domingo formularam um chama¬do a todo o Povo de Deus da América Latina onde diziam: "Deve-se instruir amplamente o Povo de Deus sobre as seitas e sobre suas injustas acusações contra a Igreja" (n° 146). E acrescentavam: "É urgente capacitar nosso povo para que saiba dar motivo e defender sua fé frente ao proselitismo das seitas". É este precisamente o objetivo deste livro que busca oferecer novos caminhos para que cada católico saiba defender sua fé. Sua finalidade é esclarecer dúvidas e dissipar erros a fIm de fortalecer a fé dos crentes e ajudar a reencon¬trar o caminho daqueles que por qualquer motivo um dia abandonaram a fé católica.
O Magistério da Igreja também se pronunciou em várias oportunidades, nestes últimos anos, sobre este particular e nos chama a unir esforços para orientar o Povo de Deus na sã doutrina a fim de reduzir e evitar ao máximo esta sangria para as seitas. Eis aqui algumas citações muito significativa:"O fenômeno das seitas constitui um sério problema e uma situação alarmante". Muitas seitas foram clara e pertinazmente, não só anti-católicas, mas também injustas ao julgar a Igreja e ao tratar de absorver seus membros menos formados" (Puebla,1972)."A invasão das seitas é apoiada com recursos econômicos muito grandes. Por trás destas atividades proselitistas das seitas existe um claro propósito de debilitar a unidade da Igreja". (Documento dos Bispos do Paraguai,1986).
A respeito disso são muito significativas as recomendações que aparecem no livro "As seitas na América Latina", publicado sob o auspício do CELAM: "Cremos que deve ser revitalizada uma sã apologética para que os fiéis estejam bem prepara¬dos e possam responder adequadamente aos ataques e objeções das seitas".
Há um grande desejo da parte do Povo de Deus de informar-se sobre este parti¬cular e é muito pouca a literatura existente. Talvez isso explique a grande difusão que teve este livro "SAIBA DEFENDER A SUA FÉ" no Chile, do qual em 5 anos, já se difundiu mais de cem mil exemplares e que com gosto o oferecemos hoje a todos os países latino¬americanos.
Com quem se pode fazer ecumenismo?
O Papa João Paulo II fez um chamado para acelerar passos em direção ao ecumenismo. Mas para avançar por este caminho se requer uma condição indispensável que é a reciprocidade. Como dissemos, hoje em dia já se dão passos bem importantes, ainda que lentos, para um verdadeiro ecumenismo com algumas igrejas chamadas tradici¬onais ou reformadas. Mas com as seitas não é possível avançar no diálogo, além de que muitas não são cristãs.
As seitas provenientes dos EE.UU. são agressivas por natureza e não aceitam nenhum tipo de diálogo, talvez porque suas motivações são mais políticas que religiosas. Com as igrejas reformadas sim, há possibilidade de ir avançando mesmo com dificulda¬des mas não se deve desanimar. Já disse o Concílio Vaticano: "Esse santo propósito de reconciliar todos os cristãos na unidade da Igreja de Jesus Cristo excede às forças e à capacidade humana". Por isso deve-se colocar toda esperança "na oração de Cristo pela Igreja, no amor do Pai para conosco e no poder do Espírito Santo". A nós corresponde criar um clima propício ao diálogo e à convivência fraterna, a fim de que possam germinar as sementes da mútua caridade, como passo prévio ao verdadeiro ecumenismo. O que interessa por agora é fortalecer a fé dos católicos para que saibam defender sua fé.
São também muito significativas as palavras do Papa ao povo do Paraguai: "Guardai zelosamente o tesouro de vossa fé como uma herança incomparável e aprendei a defen¬der-vos do proselitismo das seitas". "Se um povo perdesse suas raízes culturais e religio¬sas, perderia também sua identidade". E acrescentava: "O problema das seitas adquiriu proporções dramáticas e chegou a ser verdadeiramente preocupante".
Como podemos fazer ecumenismo?
Podemos fazer ecumenismo hoje orando insistentemente pela união das Igrejas já que o ecumenismo é, antes de mais nada, uma obra do Espírito Santo. Também promo¬vendo uma maior participação na Semana de Oração pela união das Igrejas, aproveitan¬do a experiência de famílias que já vivem uma situação ecumênica, incorporando-a à catequese, apoiando iniciativas de organismos ecumênicos nos quais nossa Igreja já está comprometida e favorecendo publicações que apresentem com afeto fraterno o trabalho de outras igrejas, etc.
A Santa Missa
O culto principal dos católicos é a Santa Missa, chamada também Eucaristia ou fração do Pão que, de forma ininterrupta se vem oferecendo a Deus desde a Última Ceia até o dia de hoje.O culto protestante se baseia mais na leitura da Bíblia e no canto dos hinos. O culto católico, além da leitura da Bíblia contempla o sacerdócio e o sacrifício do altar.Para os católicos a Missa foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo na Última Ceia e o mesmo Jesus ordenou oferecê-la até o fIm dos tempos: "Façam isto em memória de mim" (Lc 22,19). Para os evangélicos a Ceia não é mais que um sinal ou recordação deixada por Jesus. Eles não aceitam a presença real de Jesus na Eucaristia.
Em resumo, os evangélicos põem a ênfase no estudo da Bíblia mas não na cele¬bração dos sacramentos e menos na Santa Eucaristia.Jesus Cristo na Última Ceia orou para que seus discípulos estivessem sempre unidos, formando um só rebanho e um só pastor. Oxalá chegássemos à união desejada por Cristo. Para isto uns e outros temos que reconhecer nossos erros e culpabilidades e empreender o difícil caminho da reconciliação e do reencontro. O clima de agressividade que existiu durante séculos tem que ser substituído por um clima de amizade e de compre¬ensão, mesmo sem renunciar nem ceder em nada do que é essencial à nossa fé.
O ecumenismo propriamente dito é feito pelos teólogos e peritos de cada Igreja em alto nível mas cada cristão e cada comunidade pode e deve ir preparando este clima com gestos de boa vontade.
O que a Igreja nos pede:
- Conversão de coração para saber ver o bom que existe em cada igreja.- Alegrar-se pelo muito que temos em comum.
- Não buscar motivos de discórdia mas de colaboração.
- Conhecer as outras igrejas sem preconceitos nem ingenuidade.
- Buscar juntos a verdade, com o desejo de ser cada dia mais fIéis a Jesus.
- Não ceder nem falhar com o que cremos que é fundamental.
- Conhecer as diferenças doutrinais e dogmáticas das quais temos oferecido uma breve síntese.
Jo 17,20-22: "Não rogo somente por eles mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e Eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste.