sábado, 11 de outubro de 2008

Os livros da Bíblia

Os livros da Bíblia

Queridos amigos e irmãos:
Hoje vamos conversar sobre a a Bíblia: Quantos livros tem a Bíblia? Que diferenças existem entre as Bíblias protestantes? A Bíblia não é apenas um livro, como alguns crêem, mas uma biblioteca completa.Toda a Bíblia está composta de 73 livros, alguns dos quais são bastantes extensos, como o do profeta Isaías, e outros são mais breves, como o do profeta Abdias.Estes 73 livros estão divididos de tal forma, que ao Antigo Testamento (A.T.) corresponde 46, e ao Novo Testamento (N.T>) 27 livros.De vez em quando costuma cair em nossas mãos alguma Bíblia protestante, e ficamos surpresos porque lhe faltam sete livros, tem somente 66 livros.Este vazio se encontra no A.T. e se deve à ausência dos seguintes livros: Tobias, Judite, 1º de Macabeus , 2º Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e o de Baruc. Por que esta diferença entre a Bíblia católica e a protestantes?É um problema histórico-teológico muito complexo. Resumindo, procuraremos responder esta pergunta.Primeiro vamos explicar como se formou a coleção de livros sagrados do A.T. dentro do povo judeu.E depois veremos como os cristãos aceitaram estes livros do A.T. junto com os livros do N.T. para formar a Bíblia completa.

1. A antiga comunidade judia da Palestina

No tempo de Jesus Cristo, na Palestina, o povo judeu só aceitava o A.T. E ainda não tinham definido a lista completa de seus sagrados, isto é, seguia aberta a possibilidade de acrescentar novos escritos à coleção de livros inspirados.Mas, desde muito tempo, ao redor dos anos 600 antes de Cristo, com a destruição de Jerusalém e a desaparição do Estado judeu, estava latente a preocupação de concretizar oficialmente a lista de livros sagrados.Que critérios os judeus usaram para fixar esta lista de livros sagrados? Deviam ser livros sagrados nos quais se reconhecia a verdadeira fé de Israel, para assegurar a continuidade desta fé no povo. Havia vários escritos que pareciam duvidosos em assuntos de fé, e inclusive francamente perigosos, de maneira que foram excluídos da lista oficial.Além disso aceitaram somente livros sagrados escritos originalmente em hebreu ( ou arameu). Os livros religiosos escritos em grego foram recusados por ser livros muito recentes, ou de origem não judia. ( Este último dado é muito importante, porque daí vem depois o problema da diferença de livros).Assim se fixou então uma lista de livros religiosos que eram de verdadeiro inspiração divina e entraram na coleção da Sagrada Escritura. A esta lista oficial de livros inspirados se dará, com o tempo, o nome de “Cannon” ou “Livros canônicos”. A palavra grega Cânon significa regra, norma, e quer dizer que os livros canônicos refletem “a regra de vida”, ou “a norma de vida” para os que crêem nestes escritos.Todos os livros canônicos da comunidade da Palestina eram livros originalmente escritos em hebreu-arameu. Os livros religiosos escritos em grego não entraram no cânon, mas receberam o nome de “apócrifos”, “livros apócrifos” (=ocultos), porque tinham doutrinas duvidosas e eram considerados “de origem oculta”.No primeiro século de nossa era (ano 90 depois de Cristo) a comunidade judia da Palestina tinha chegado a reconhecer na prática 39 livros como inspirados oficialmente.Esta lista dos 39 livros do A.T. é chamada “Cânon de Palestina” ou “o Cânon de Jerusalém”.

2. A comunidade judia de Alexandria

Simultaneamente existia uma comunidade judia em Alexandria, no Egito. Era uma colônia judia muito numerosa fora da Palestina, pois contava com mais de 100.000 israelitas. Os judeus no Egito não entendiam o hebreu, porque fazia tempo que tinham aceitado o grego, que era a língua oficial em todo o Oriente Próximo. Em suas reuniões religiosas, em suas sinagogas, eles usavam uma tradução da Sagrada Escritura do hebreu ao grego que se chamava “dos Setenta”. Segundo uma lenda muito antiga esta tradução “dos Setenta” tinha sido feita quase milagrosamente por 70 sábios ( entre os ano 250 e 150 antes de Cristo ).A tradução grega dos Setenta conservava os 39 livros que o Cânon de Palestina tinha (cânon hebreu), mais outros 7 livros em grego. Assim se formou o famoso “Cânon de Alexandria” com um total de 46 livros sagrados.A comunidade judia da Palestina nunca viu com bons olhos esta diferença de seus irmãos alexandrinos, e recusavam aqueles 7 livros, porque estavam escritos originalmente em grego e eram livros anexados posteriormente.Era uma realidade que, no tempo do nascimento do cristianismo, havia dois grandes centros religiosos do judaísmo: o de Jerusalém (na Palestina) e o de Alexandria ( no Egito). Em ambos os lugares estavam autorizados os livros do A.T.: em Jerusalém 39 livros ( em hebreu–arameu), em Alexandria 46 livros (em grego).

3. Os primeiros cristãos e os livros sagrados do A.T.

O cristianismo nasceu como um movimento religioso dentro do povo judeu. Jesus mesmo era judeu e não recusava os livros sagrados de seu povo. Além disso os primeiros cristãos tinham ouvido Jesus dizer que Ele não tinha vindo para suprimir o A.T. mas para completá-lo (Mt 5,17). Por isso os cristãos reconheceram também como os livros inspirados os textos do A.T. que os judeus usavam.Mas se viram em dificuldades. Deviam usar o cânon breve da Palestina com 39 livros, ou o cânon longo de Alexandria com 46 livros?De fato, por causa da perseguição contra os cristãos, o cristianismo se estendeu prioritariamente fora da Palestina, pelo mundo grego e romano. Ao mesmo em sua redação definitiva e quando nos livros do N.T. se citavam textos do A.T. (mais de 300 vezes) , naturalmente se citavam em grego, segundo o Cânon longo Alexandria. Era o mais lógico, portanto, que os primeiros cristãos tomassem este Cânon grego de Alexandria, porque os mesmos destinatários a quem deviam levar a palavra DE Deus todos falavam grego. Portanto, o cristianismo aceitou desde o começo a versão grega do A.T. com 46 livros.

4. A reação dos judeus contra os cristãos

Os judeus consideravam os cristãos como herejes do judaísmo. Não gostaram nada que os cristãos usassem os livros sagrados do A.T. e para piorar, os cristãos citavam profecias do A.T. para justificar sua fé em Jesus de Nazaré. Além disso, os cristãos começaram a escrever novos livros sagrados: o Novo Testamento. Tudo isto foi motivo para que os judeus resolvessem encerrar definitivamente o Cânon de seus livros sagrados. E em reação contra os cristãos, que usavam o Cânon longo de Alexandria com seus 46 livros do A.T., todos os judeus optaram pelo Cânon longo breve da Palestina com 39 livros.Os livros gregos do Cânon de Alexandria foram declarados como livros “apócrifos” e não inspirados. Esta foi a decisão que os responsáveis do judaísmo no ano 90 depois de Cristo tomaram e proclamaram oficialmente o Cânon judeu para seus livros sagrados. Os cristãos, por sua parte, sem que a Igreja que resolvesse nada oficialmente, continuaram co o costume de usar os 46 livros como livros inspirados do A.T. De vez em quando havia algumas vozes discordantes dentro da Igreja que queriam impor o Cânon oficial dos judeus com seus 39 livros. Mas vários concílios, dentro da Igreja, definiram que os 46 livros do A.T. são realmente livros inspirados e sagrados.

5. O que aconteceu com a Reforma?

No ano 1517, Martinho Lutero se separou da Igreja Católica. E entre as muitas mudanças que introduziu para formar sua nova igreja, esteve a de aceitar o Cânon breve dos judeus da Palestina, que tinha 39 livros para o A.T.Algo muito estranho, porque era contrário a uma longa tradição da Igreja, que vem dos apóstolos. Os cristãos, durante mais de 1.500 anos, contavam entre os livros sagrados os 46 livros do A.T. Sem embargo, Lutero se sentia importunados pelos 7 livros escritos em língua grega e que não figuravam nos de língua hebraica.Diante desta situação, os bispos de todo o mundo se reuniram no famoso Concílio de Trento e fixaram definitivamente o Cânon das Escrituras em 46 livros para o A.T. e em 27 para o N.T. Mas os protestantes e as muitas seitas nascidas deles, começaram a usar o Cânon dos judeus palestinos que tinha só 39 livros do A.T. Daí v~em a diferenças de livros entre as Bíblias evangélicas.

6. Os livros canônicos

Os 7 livros do A.T. escritos em grego foram causa de muitas discussões. A Igreja Católica deu a estes 7 livros o nome de “livros deuterocanônicos”. A palavra grega “deutero” significa segundo. Assim a Igreja Católica declara que são livros de segunda aparição no Cânon ou na lista oficial de livros do A.T. porque passaram num segundo momento a formar parte do Cânon.Os outros 39 livros do A.T. escritos em hebreu, são os chamados livros “protocanônicos”. A palavra “proto” significa “primeiro”, já que desde o primeiro momento estes livros integraram o Cânon do A.T.

7. Qumram

No ano 1947 os arqueólogos descobriram em Qumram (Palestina) escritos muito antigos e encontraram entre eles os livros de Judith, Baruc, Eclesiástico e 1º de Macabeus escritos originalmente em hebreu, e o livro de Tobias em arameu. Quer dizer que somente os livros da Sabedoria e 2º de Macabeus foram redigidos em grego. Assim o argumento de não aceitar estes 7 livros por estar escritos em grego já não é válido. Além disso a Igreja Católica nunca aceitou este argumento.

Considerações finais

No final, percebemos que este problema acerca dos livros é uma questão histórica-teológica muito complexa, e com diversas interpretações e apreciações. Contudo, é evidente que a Igreja Católica, com respeito a este ponto, goza de uma base histórica e doutrinal que, com muita razão, a apresenta como a mais segura. Entretanto, desde que Lutero tomou a decisão de não aceitar esta tradição da Igreja Católica, todas as igrejas protestantes recusaram os livros Deuterocanônicos com livros inspirados e declararam estes 7 livros “apócrifos”. Nos últimos anos há, de parte de muitos protestantes, uma atitude mais moderada para com estes 7 livros e inclusive se editam Bíblias ecumênicas com os Livros Deuterocanônicos.Com efeito, foram compreendendo que certas doutrinas bíblicas, como a ressurreição dos mortos, o tema dos anjos, o conceito de retribuição, a noção de purgatório, começam a aparecer já nestes 7 livros tardios. Pelo fato de ter suprimido estes livros percebem que há um salto muito grande até o N.T. (mais ou menos um período de 300 anos sem livros inspirados). Estes 7 livros gregos revelam o elo perdido para o N.T.Os ensinamentos destes escritos mostram uma maior harmonia em toda a Revelação Divina na Bíblia. De fato, já se vêem algumas Bíblias Ecumênicas, que incluem estes 7 livros, chamados deuterocanônicos. O dia em que se der este passo definitivo e reconhecê-los como inspirados sentiremo-nos muito mais próximo daquela unidade tão pedida e desejada por Jesus. A Igreja Católica com o Conselho Mundial de Igrejas promove todos os anos a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que vai desde o Domingo da Ascensão até o Domingo de Pentecostes. Quem nunca participou deveria começar a faze-lo já que a oração é a alma do Ecumenismo. Somente Deus sabe como e quando chegará a tão desejada união. O que nos incumbe é orar e fazer gestos de boa vontade para acelerar esta tão desejada hora de Deus.