sábado, 11 de outubro de 2008

Irmão ou padre?

Irmão ou padre?

Queridos irmãos católicos,


Percebo que os irmãos evangélicos têm certo medo de chamar “padre’’ aos sacerdotes. Embora saibam muito bem, que é costume chamar o ministro da Igreja Católica de Padre, alguns dizem “senhor” e no melhor dos casos, me chamam de “irmão”. Também há quem me chame de “senhor sacerdote”. ( E me consta que depois dizem sem mais nem menos a seu povo que os sacerdotes mataram Cristo, porque dizem que também assim está na Bíblia!)
Não importa como se chamem ou o que pensam de mim. Sei que Deus conhece os pensamentos mais íntimos e é Ele quem me vai julgar.
Nesta carta quero explicar-lhes a origem deste nome de “padre” e depois em outra carta lhes falarei sobre os sacerdotes, os sacerdotes, os que eles dizem que mataram o Senhor.

1. O texto bíblico
Gosto que me chamem de “irmão”, mas não devem pensar que cometem algum pecado se me chamam de “padre”. Seguramente terão ouvido aquele texto bíblico que diz: “Quanto a vocês, nunca se deixem chamar mestre, pois um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. Na terra, não chamem a ninguém Pai, pois um só é o Pai de vocês, aquele que está no céu (Mt 23,8-9), e é por isso que muitos pensam que não devem chamar, de jeito nenhum, “padre” a um sacerdote.
Irmãos e amigos: lendo bem toda a Bíblia vemos que as Sagradas Escrituras fazem sempre esta distinção entre “Pai”, como título de honra reservado ao Deus Único, fonte e fim de todas as coisas, e pai com minúscula, isto é, o pai que dá vida humana ou “padre espiritual”.
O mesmo acontece com a palavra Mestre. O único Mestre – com maiúscula -, é Deus, mas isto não tira que, mesmo entre nós, chamemos mestre – com minúscula- a qualquer professor ou mestre marceneiro. Isto é, temos um Pai e Mestre por excelência que é Deus. Um Pai e Mestre – com letra grande -, que é o Deus Único e ningém pode apropriar-se deste título. Mas há inúmeros padres e mestres, digamos que por acomodação mas que participam de alguma forma da paternidade e do mestrado de Deus.

2. Que nos diz a Bíblia sobre o nome de “Pai”?
A Bíblia nos diz abertamente que Deus é o único Pai e Mestre. Deus é o único Pai, fonte e origem de todas as coisas. Diz o Apóstolo: “Para nós, existe um só Deus: o Pai. Dele tudo procede e para ele é que existimos. E há um só Senhor, Jesus Cristo, por quem tudo existe e por meio do qual também nós existimos” (1Cor 8,6).
De acordo com este texto bíblico, está claro que não devemos dar este título divino a ninguém mais além de Deus. Ele é o Pai e Mestre por natureza. Nele está a origem do bem, da vida e de toda sabedoria.
Examinemos o contexto da frase de Jesus: No evangelho de Mateus, cap 23, num longo discurso, Jesus acusa os fariseus e os mestres da lei, porque gostam muito dos títulos de honra. Consideram-se autorizados para interpretar a lei de Moisés ao seu arbítrio (vs 2), gostam de carregar na frente e no braço partes das Sagradas Escrituras (vs6), gostam de ser saudados com todo o respeito nas praças e de ser chamados de mestres (vs7). É neste contexto que Jesus lhes diz: “Quanto a vocês , nunca se deixem chamar de mestre, pois um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. Na terra, não chamem a ninguém de Pai, pois um só é o Pai de vocês, aquele que está no céu (vs8,9). “Pelo contrário, o maior de vocês deve ser aquele que serve a vocês” v. 11). Porque quem se eleva será humilhado será elevado” (v 12).
Queridos irmãos, está muito claro que Jesus não quer que demos títulos de honra a nenhum membro da comunidade. Mas não devemos pensar que Jesus quer acabar com toda autoridade entre nós, antes pede que existam responsáveis na comunidade dos que crêem, que sirvam com muita humildade ao povo e que esta autoridade não deve ofuscar a do único Pai, Deus. O que importa na realidade não é o título que se dá aos responsáveis pela comunidade, mas o serviço humilde que eles prestam. E é para expressar este serviço de paternidade espiritual que o povo, desde séculos e séculos, chama, por acomodação, “pais” aos sacerdotes.

3. Jesus chama a Deus: Meu Pai
Jesus na sua condição de Verbo encarnado (como homem) se define como: “o Filho único do Pai, por natureza”. “Meu Pai, por natureza”. “Meu Pai entregou tudo a mim. Ninguém conhece o Filho, a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o filho quiser revelar” (Mt 11,27). Estes textos bíblicos nos fazem ver que existe uma relação íntima e única entre o Pai e o Filho. Jesus é o único que pode, com toda propriedade, chamar Deus de Pai. Ele é seu filho por natureza.
Por nossa vez, nós também chamamos Deus “nosso Pai”, já que pelo poder do Espírito Santo, somos filhos de Deus. Jesus é Filho por natureza, nós somos seus filhos por adoção. Deus é o Pai Único, fonte de todas as coisas, e nós não devemos dar a ninguém este título divino. Isto é o que Jesus queria dizer no seu discurso contra os fariseus e mestres da lei (Mt. 23,9), que se apropriavam de títulos divinos. Mas Deus não queria dizer nem que os filhos deixem de chamar de pai ao seu papai, nem que numa comunidade cristã os fiéis não possam chamar de pai seu sacerdote. Isto já seria um exagero.
O texto também diz: “Não chamem Mestre a ninguém, pois um só é o vosso Mestre”. É certo que Jesus Cristo é o único Mestre fonte de toda Verdade e Sabedoria (Jo 18,37), mas Deus não se opõe a que chamemos de mestre – por participação – a um professor, ou um mestre marceneiro. O argumento é o mesmo.
Entendidas assim as coisas, tanto a palavra “Pai” como a palavra “Mestre” em sentido próprio são títulos exclusivos de Deus, mas em sentido figurado, por acomodação, podemos aplicá-los a outras pessoas. E assim, tanto a palavra “pai” como a palavra “mestre” formam parte da linguagem comum e corrente que empregamos no dia-a-dia para conversar e para entender-nos.
Em conseqüência, um filho pode chamar “pai” a seu papai, e um paroquiano pode chamar “pai” a seu pai espiritual ou sacerdote, como pode chamar “mestre” a seu professor. As próprias escrituras não têm nenhuma dificuldades em usar estes nomes. Jesus mesmo disse: “Honre seu pai e sua mãe” (Lc 18,20). E o Apóstolo Paulo repete várias vezes:”5 “Filhos obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo” (Ef 6,1). Se o Apóstolo chama de filhos na fé a quem gerou pela pregação, significa também que seus “filhos” espirituais podem chamá-lo de pai (Cl 3,20 e 1Tm 1,2).
De acordo com a interpretação dos evangélicos, que não duvidam em tirar textos bíblicos fora de seu verdadeiro contexto, tampouco poderíamos chamar ninguém de “mestre” já que na própria citação bíblica (Mt 23, 8-9), Jesus nos diz que: “Nunca se deixem chamar mestre, pois um só é o Mestre de vocês”. E no entanto, todo mundo chama mestre o carpinteiro, o pedreiro, etc. E a ninguém se lhe ocorra dizer que vai contra o Evangelho.
Aqui o que existe é, como em tantos textos por eles mal interpretados ou interpretados tendenciosamente, um coar o mosquito e engolir o camelo, isto é, um querer tirar partido de uma frase tirada de seu verdadeiro contexto afim de confundir o povo simples.

4. A paternidade espiritual do apóstolo
A Bíblia fala também de uma “paternidade espiritual”.
-O apóstolo Paulo proclama o Patriarca Abraão como “pai” na fé. “Abraão vem a ser pai de todos os que têm fé” (Rm 4,11).
-O apóstolo João dá aos “anciãos” ou responsáveis pela comunidade o nome de “pais” (1Jo 2,13-14).
-Em suas cartas os apóstolos chamam os crentes com o nome de “filhinhos” (Gl 4,19 e Jo 2, 1-12; e 18,28). Se o apóstolo os chama “filhos”, é que eles o chamavam “pai”.
-Timóteo, o colaborador do Apóstolo Paulo, é chamado quatro vezes com o nome de “filho na fé” (1Tm2 e 18; e 2Tm 1, 2 e 2,1): “Eu, Paulo, já ancião e agora preso... te peço um favor para Onésimo, que chegou a ser um filho meu espiritual” (Fm10).
-Em outros textos o Apóstolo Paulo também se apresenta como um “pai”. Vocês já sabem como Timóteo demonstrou sua virtude e como serviu na pregação da mensagem, como um filho que ajuda a seu pai” (Fl 2,22).
Queridos irmãos e amigos: este é o sentido com que a Igreja Católica usa o nome de “pai” para indicar o pastor, o ministro da comunidade dos crentes. Não é nem de longe com o intuito de apropriar-se de um título divino.
No entanto, para evitar confusões e para não dar motivo para encândalos farisaicos, em alguns países a Igreja Católica utiliza outras palavras para designar seus sacerdotes.
Na Alemanha, por exemplo, se usa a palavra “pastor” ( com acento no a ) para referir-se ao sacerdote católico, e “pastor” (com acento no o) para referir-se ao ministro evangélico. No Chile se usa geralmente o nome de “pastor” para nos referirmos ao Sr. Bispo.
Na França chama-se o sacerdote com o título de “Abbé”. Na Catalunha, Espanha, é chamado de Mossén. Mas na América Latina está arraigado o costume de chamá-lo de “padre”. Os que tenham dificuldade, que o chamem de “irmão”, que é também uma palavra bonita. Mas, entendidas assim as coisas, saibam todos que se pode usar a palavra “pai” e “mestre” sem que isto signifique um agravo nem ofensa a Deus. Trata-se de uma paternidade espiritual.

5. O que importa é ser um servidor da comunidade
O que importa aqui não é tanto a questão do nome, o que importa é que o sacerdote ou ministro seja um servidor da comunidade. Se não o é, aí, sim, existiria uma contradição, por mais que se usem nomes muito “serviçais”. E esta atitude se manifesta quando os fiéis tratam o pastor ou o sacerdote como um semideus. Não devemos cair neste defeito.
Os ministros da comunidade devem ser servidores. A atitude orgulhosa dos fariseus e mestres da lei (Mt 23) é uma tentação de todas as religiões. Em seu tempo, os fariseus não reconheceram a autoridade de Deus, mas simplesmente se apropriaram dela e “sentaram-se no trono de Moisés” (Mt 23,2). Isto é o que o Senhor castiga.
Por outro lado, com a intenção de dar confiança e de suprimir barreiras, se está estendendo em nível continental um tratamento mais direto entre os sacerdotes e fiéis. Muitos nos tratam por tu ou simplesmente nos tratam de irmãos, o que geralmente é muito bem acolhido. Também se percebe uma certa resistência ao tratamento de “monsenhor”, que equivale a “meu senhor” porque cria distancias artificiais entre o pastor e seu rebanho. Mas sobre isto não há nada escrito.
Toda autoridade na Igreja deve fundamentar-se na fraternidade e no serviço a Deus e aos irmãos. O que ensina e dirige a comunidade é também um homem pecador e não deve sentir-se como os grandes do mundo, mas deve ser um amigo, um irmão, um pai e servidor em Cristo Jesus.
Assim que no referente ao nome de “irmão” ou “pai” ou “pastor” digo-lhe uma vez mais o importa é o espírito mais que a letra. Não disse, por acaso, o Apóstolo: “A letra mata e o Espírito é que dá vida”? (2Cor 3,6).


Quem nos criou e colocou neste mundo?
Deus nos criou e colocou neste mundo.

Para que Deus nos criou?
Deus nos criou para que participássemos da comunhão de amor existente entre as três Divinas Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito.