quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A criação do mundo e do homem

A criação do mundo e do homem

Ao ler as primeiras páginas da Bíblia, muitos se perguntam: Como se formou este mundo? Como surgiu a vida sobre aterra? O que nos diz a ciência a respeito? Deve-se interpretar ao pé da letra os cinco primeiros capítulos do Gênesis? Existe contradição entre a Bíblia e o que a ciência ensina? No contexto destes temas vamos dar uma resposta a este delicado ponto que hoje inquieta sobretudo a juventude que vê como uma contra¬dição entre o relato bíblico e o que ele aprende nos livros de ciência.
Durante séculos, a imensa maioria dos crentes, interpretou literalmente as pala¬vras da Bíblia, pensando que Deus tinha criado todas as coisas desde um começo, tal como as vemos agora; ou seja, que havia criado o sol, a lua, as estrelas e os havia posto cada um em seu lugar para que continuassem dando voltas no firmamento. Acreditava-se também que Deus tinha feito os montes, as sementes, as plantas, os animais e mesmo o homem, tal como os vemos agora e que cada espécie tinha tido descendentes sempre em tudo semelhantes a seus progenitores.
Esta era uma leitura que hoje chamaríamos "fundamentalista" da Bíblia., isto é, uma leitura que interpreta cada frase em sentido literal e sem atender para nada o estilo literário que os orientais utilizavam em suas narrações. Era uma leitura sem sentido crítico nem literário. E de fato algumas seitas fundamentalistas seguem ainda esta ten¬dência e a exigem de seus adeptos. Hoje as ciências humanas e a hermenêutica - que éa interpretação da Bíblia - avançaram muito e nos asseguram que estes relatos não são históricos no sentido atual da palavra mas que são poéticos e nos apresentam o relato bíblico dentro de uma cultura oriental que se expressa preferentemente através de sinais e imagens poéticas.
Então, o que a Bíblia nos quer dizer?
Em termos de fé, o que a Bíblia nos quer dizer nos primeiros capítulos do Gênesis é que Deus criou a matéria e que lhe comunicou um primeiro impulso para que esta, através de sucessivas transformações acontecidas durante milhões de anos, gerara a vida, primeiro a das plantas, depois a dos animais e finalmente a do ser humano; ou seja, que Deus, com seu infinito poder, criou a matéria do nada e lhe deu seu impulso criador para que se fosse transformando até chegar a ser o que vemos que é o mundo hoje em dia.
Mas a criação não foi uma coisa do passado. Não foi um fato que aconteceu faz milhões de anos e que durou um instante. A criação foi e continua sendo. Deus continua hoje conservando o mundo e com sua divina Providência o segue acompanhando até sua total plenitude. Esta interpretação surgiu na Igreja a princípios deste século e se deveu principalmente a um homem visionário, a um jesuíta chamado Teillard de Chardin, que teve a genialidade de fazer a síntese entre os avanços da ciência e a Bíblia. Segundo esta teoria, então, entre a fé e a ciência não só não há contradição mas existe uma mútua complementação.
Como se teria formado a terra?
Hoje a ciência nos diz que o universo muda a cada momento. Que as galáxias se distanciam umas das outras com a velocidade de milhares de quilômetros por segundo. Que o universo está em constante mutação. E que enquanto se inventam mais e melhores telescópios, mais o homem se assombra com a grandeza do universo e a pequenez do planeta Terra. A ciência hoje se inclina a crer que faz milhares de milhões de anos, a matéria da qual estão feitos os astros, os planetas e a própria Terra era como uma grande massa amorfa, que num momento dado experimentou uma grande explosão - "big bang a denominam os científicos" - e de repente se fragmentou em milhões de pedaços que se espalharam por todo o fIrmamento. E depois de um longo processo de fragmentação e de queda das temperaturas que eram de milhões de graus, começaram a aparecer os astros, os planetas e as estrelas, tal como os vemos agora. No início, então, a terra fazia parte daquela grande massa amorfa de matéria e energia que explodiu repentinamente e que se desagregou pelo universo. Depois aquela massa foi se esfriando e quando se deram as condições adequadas, lentamente, através de milhões de anos, surgiu a vida.
Como surgiu a vida e o ser humano?
Quando se deram na terra as condições adequadas de temperatura, água e ar, começaram a aparecer os primeiros seres vivos. Primeiro foi uma vida muito primária e molecular, depois apareceu a vida vegetal e fInalmente a vida animal. Os seres mais primi¬tivos foram núcleos celulares. Depois de sucessivas transformações apareceram os novos gêneros de vida, tanto vegetal como animal. E assim, pouco a pouco, foram aparecendo as plantas, os peixes e as aves e todos os animais. Assim a vida foi desenvolvendo-se lentamente até chegar a ser o que é hoje.
A vida, primeiro no mar e depois sobre a terra, surgiu após milhões de anos de mutações e transformações. Os seres vivos nasceram, cresceram e foram adaptando-se ao meio. Uns permaneceram no mar e outros emergiram para a terra e foram evoluindo, isto é, se adaptaram ao novo meio. E assim muitos seres terrestres desenvolveram-se no mar durante a primeira etapa de sua vida e depois, milhões de séculos mais tarde, emer¬giram para a superfície da terra. Segundo esta interpretação, Deus teria dado à criação o impulso inicial, e teria fixado as leis para a natureza e esta, obedecendo ao impulso do Criador numa cadeia ininterrupta de transformações, chegou a gerar as diferentes espéci¬es de vida - de plantas, aves, peixes e animais - que hoje vemos em nosso planeta. E de uma destas espécies, previamente escolhida pelo Criador, teria saído o "homo sapiens". Isto é o que se ensina hoje em qualquer livro de biologia sobre a orig~m do universo e do homem. Ensina-se que a vida do antepassado do homem surgiu do mar e que através de milhões de anos foi adaptando-se à terra, isto é, ao terreno seco. Acrescenta-se também que primeiro, o antepassado do homem andou de quatro patas, logo foi se erguendo pouco a pouco e que finalmente se ergueu e caminhou sobre dois pés. Também, em coleções de crânios que se puderam recopilar e estudar, se mostra como as formas do cérebro do homem foram evoluindo até transformar-se no "homo sapiens". Agora bem, no plano teológico pode-se afirmar que, para que o antepassado do homem passasse do estado de não-homem ao de homem-racional deve-se acreditar que houve uma intervenção especial de Deus.
Cada alma é criada por Deus
Já o Papa Pio XII na Encíclica "Humani Generis" em 1950, afirmava que "não era contrário à fé reconhecer ao corpo do homem uma origem que poderia ser uma matéria viva, mantendo que as almas são criadas diretamente por Deus, o que é compatível com um certo evolucionismo".É bom notar aqui como a Igreja - Mãe e Mestra também na interpretação da Bíblia- faz pé firme em que o homem está formado de corpo e alma e que a alma não pode ser fruto desta evolução cíclica mas que cada alma, por ser única e irrepetível, é criada diretamente por Deus. Daí, então, a grande diferença que há entre o ser humano em relação a outros seres vivos da criação.
A criação da alma, que afinal é o que dá dignidade ao homem, é uma ação direta e imediata do Criador. E quando um homem e uma mulher se unem para gerar uma nova vida, então Deus cria a alma única, imortal e irrepetível de cada novo ser.Milhões de pessoas durante séculos interpretaram os primeiros livros do Gênesis de forma literal, isto é, pensaram que Deus criou o mundo em seis dias como os nossos e que criou tudo tal como o vemos hoje em dia.
Hoje temos novos elementos para interpretar como surgiu a vida sobre a terra. Como católicos, então, podemos aceitar uma moderada teoria da evolução, segundo a qual Deus criou a matéria e lhe deu o primeiro impulso criador. E chegado o momento escolhido pelo mesmo Deus e prévia uma especial intervenção sua, cria a alma e daí surge o ser humano.Dizemos 'moderada' porque não faltam os que passam ao outro extremo e dizem que o homem é fruto da evolução e só da evolução sem aceitar para nada esta especial intervenção de Deus ao criar a alma do primeiro homem e a alma de cada um de nós.
Fique claro que podemos aceitar uma moderada teoria da evolução e isto em nada diminui o poder e a grandeza de Deus Criador, pelo contrário, que mais e mais o aumenta já que através dela, Deus não apenas aparece como autor da matéria e do cos¬mos mas também das leis que regem o universo.E é neste contexto que recupera todo seu sentido o texto de São Paulo aos Colossenses (Coll,15-20), em que aparece a figura de Cristo Redentor como centro da criação, que diviniza o homem numa espiral ascendente até a plenitude de sua vocação divina.
Este mundo tão bonito Nosso Senhor o criou para que o homem soubesse as finezas de seu amor. (Salmo 8)