sábado, 11 de outubro de 2008

O sábado ou o domingo?

O sábado ou o domingo?

Queridos irmãos,

Outro dia uma família me contou que recebeu visita de um senhor muito educado. E com o melhor dos sorrisos, o homem lhes ofereceu para vender-lhes uns livros bonitos de cultura geral. Dizem que falou tão bonito de tantas coisas...mas ao final terminou com um assunto de religião, dizendo que os católicos estão enganados, que, segundo a Bíblia, devem substituir a celebração do Domingo pela do sábado, pois o sábado é o dia bíblico e o Domingo uma adulteração dos católicos.
Eu lhes expliquei que tal pessoa, seguramente, era um missionário da religião Adventista do Sétimo Dia. Pois são eles quem observam o sábado e proclamam que eles são os únicos que cumprem a Bíblia.
Que devemos pensar de tudo isto?
Bom, antes de falar do dia do Domingo ou sábado, devemos dizer que os irmãos adventistas são, nesta observância do sábado, tão escrupulosos como os fariseus que o santo Evangelho nos mostra. Não aprenderam nada da “liberdade de espírito” com que Jesus falava sobre o dia de sábado.
Ademais, os adventistas estudam a Bíblia com base em textos isolados, e esquecem que a Revelação Divina segue na Escritura uma evolução progressiva; e sem seguir verdadeiro sentido de um ensinamento bíblico.
Não devemos permanecer com umas poucas páginas da Bíblia, mas devemos ler toda a Bíblia.

1. O que o A.T.nos ensina acerca do dia sábado?
A palavra “sabat” (sábado) significa “descanso”, “repouso” ou “cessação”. Isto é, que “sábado” significa simplesmente “um tempo de descanso” e não tem originalmente nenhum significado como “o sétimo dia da semana”.
De fato, na Bíblia, se emprega a palavra “sábado” com diversos significados Ás vezes significa “um repouso” de um dia ( Ex20,10 ). Outras vezes este repouso é de “um ano” ( Lev 25,4 ). Alguma vez indica também um período de 70 anos ( 2 Cr 36,21 ).
Agora bem, de onde vem o dia de sábado como sétimo dia consagrado a Deus? Leiamos a Bíblia: “Assim foram feitos o céu e a terra e tudo o que existe neles. Deus terminou seu trabalho no sétimo dia, e descansou neste dia de tudo o que tinha feito. Deus bendisse o sétimo dia e o tornou santo porque nesse dia Ele descansou de todo seu trabalho de criação” (Gn2,2-3). “Em seis dias Javé fez o céu e a terra, o mar e tudo quanto neles existe, mas no sétimo dia Javé descansou, e por isso abençoou o sábado e o tornou sagrado” (Ex 20,11). “Seis dias trabalharás e farás tuas obras, mas o sétimo é o sábado de Javé teu Deus” (Dt 5,13-14).
Percebemos que nestes textos a palavra “sábado” (descanso) tem para os israelitas do Antigo Testamento um novo sentido, um sentido religioso. O sábado lhes recordava a criação de Deus em seis dias com seu descanso no Sétimo dia; este último dia é consagrado a Deus. E o homem também com seu trabalho imitava a atividade de Deus Criador e com seu “descanso” (“sabat”) do sétimo dia, o homem imita o repouso sagrado de Deus (Ex 31,13).
Assim o dia de sábado se converteu para os israelitas num sinal, numa de suas práticas mais típicas e importantes. Este sinal do dia de sábado e a circuncisão eram características mediante as quais o povo de Israel se distinguia dos outros povos que o rodeavam E durante toda a história do A.T., o povo de Israel guardou fidelidade a estes dois sinais.
Com o tempo a prática do repouso do sábado foi assumida pela lei judaica em forma muito restrita, com 39 proibições de trabalho: proibição de acender lenha(Num 15,32); proibição de preparar alimentos (Ex 16,23); proibição de acender fogo (Ex 35,3); etc. Pouco a pouco a prática do repouso do sábado se converteu em uma observância escrupulosa e hipócrita. Os profetas do A.T. lançam uma dura crítica contra a prática legalista do sábado que converteu os israelitas num povo sem devoção interior ( Os 1,2 e Os 2,13).

2. Jesus celebrava o dia de sábado?
Jesus não suprime explicitamente a lei do sábado. Ele, em dia de sábado, visitava a sinagoga e aproveitava a ocasião para anunciar o Evangelho (Lc 4,16). Mas Jesus como os profetas, atacava o rigorismo formalista dos fariseus e dos mestres da Lei: “O sábado está feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). Para Jesus o dever da caridade é anterior à observância material do repouso; por isso, Ele fez várias curas em dia de sábado, obras proibidas neste dia (Mc 3, 1-6; Lc 14,1-6; Lc 6,1-5). Ademais, Jesus se atribuiu poder sobre o sábado: “o Filho do Homem é Senhor do sábado” (Mc 2,28), Em outras palavras, Jesus é dono do sábado (Lc 6,1-5)
É claro que esta nova maneira de observar o sábado se chocou violentamente com a mentalidade legalista dos fariseus. E esta era uma das acusações graves contra Jesus (Jo 5,9). Mas Ele estava consciente de que, fazendo o bem no dia de sábado, imitava seu Pai, o qual tendo repousado no sétimo dia, no final da criação, continua governando o mundo e vivificando os homens. “Meu Pai trabalhou até agora, e eu também trabalho” (Jo 5,17).
A atitude de Jesus perante o dia de sábado nos ensina que ele agiu com liberdade de espírito frente a essa lei, e nunca considerou a observância do sábado como algo essencial em sua pregação; isto era para Jesus algo menos importante.
Jesus disse claramente “que não veio para suprimir a lei, mas para dar-lhe seu verdadeiro significado” (Mt 5,17). Em atitude não se trata de cumprir a lei ao pé da letra, mas promover uma evolução da lei para sua perfeição.

3. A Ressurreição de Jesus
O argumento fundamental para optar pelo dia de Domingo procede da Ressurreição do Senhor. Os quatro evangelistas concordam com a Ressurreição de Cristo aconteceu no “primeiro dia da semana”, que corresponde ao Domingo de agora (Mt 28,1; Mc 16,2; Lc 24,1; Jo 20,1 e 19). O fato da Ressurreição de Cristo ser no dia de Domingo, para os discípulos era altamente significativo e será desde então o centro da fé cristã. Existem duas razões fundamentais para celebrar este dia da Ressurreição:
1) Com sua Morte e Ressurreição, Jesus começou a Nova Aliança e terminou a Antiga Aliança. Durante a última Ceia, Jesus proclamou: “Este cálice é a Nova Aliança, selado com meu sangue, que vai ser derramado por vocês” (Lc 22,20). Os discípulos de Jesus pouco a pouco perceberam que nesta Nova Aliança a lei de Moisés e suas práticas teriam outro sentido.
2) A Morte e Ressurreição de Cristo significavam também para os primeiros cristãos a Nova Criação, já que Jesus culminava sua obra precisamente com sua morte e Ressurreição justamente no Domingo, que será desde então “o dia do Senhor”. Nós também recebemos a promessa de entrar com Cristo neste repouso (Hb 4,1-16). Então, o Domingo, “o dia do Senhor”, será o verdadeiro dia de descanso, em que os homens repousarão de suas fadigas à imagem de Deus que descansa de seus trabalhos (Hb 4,10 e Ap 14,13).
Daqui em diante a fé dos cristãos tem como centro Cristo Ressuscitado e Glorificado. E para eles era muito lógico celebrar o “Dia do Senhor” (Domingo) como o “Novo dia” da Criação (Is 2,12).

4. A prática dos primeiros cristãos
Os primeiros cristãos seguiram no começo observando o sábado e aproveitaram as reuniões sabáticas para anunciar o Evangelho no ambiente judeu (At 13,14). Mas logo o primeiro dia da semana (o Domingo) começou a ser o dia do culto da Igreja primitiva. “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão...” (At 20,7). Sabemos que “partir o pão” é a expressão antiga para designar a santa Missa ou Eucaristia. É então muito claro que os primeiros cristãos tinham sua reunião litúrgica – a santa Missa – no dia de Domingo, tal como se faz hoje, João, o autor do livro do Apocalipse, escreve: “Sucedeu que, no dia do Senhor, fiquei sob o poder do Espírito Santo” (Ap 1,10).

5. O que nos ensina o apóstolo Paulo?
Jesus tinha dito: “Eu não vim para acabar com a lei, mas para completar a lei, dando-lhe sua última perfeição” (Mt 5,17). São Paulo em suas cartas desenvolve esta mesma idéia: “O fim da lei é Cristo” (Rm 10,4). Assim, para o apóstolo, a plenitude da lei não se encontra no cumprimento literal da lei, mas na fé em Cristo. Paulo diz que “a lei foi nosso mestre até Cristo” (Gl 3,24) e com Cristo se inicia a Nova Aliança (ICor 11,25). O apóstolo Paulo teve suas discussões acerca do dia do Senhor. No começo tinha o costume de pregar nas sinagogas no dia de sábado para os judeus, mas quando recusavam seus ensinamentos, ele se voltava para os gentios. Neste ambiente não judeu. Paulo não dava importância aos costumes judeus, como a circuncisão, o dia sábado, etc. Paulo se reunia com os novos crentes no primeiro dia da semana, e transladavam as práticas que os judeus costumavam fazer em dia de sábado, como a coleta da esmola, para o primeiro dia da semana (1Cor 16,1-2).