sábado, 11 de outubro de 2008

Jesus e os Sacerdotes

Jesus e os Sacerdotes

Queridos irmãos:

Outro dia alguém me disse que “Os sacerdotes mataram Jesus” e o confirmou com um texto bíblico na mão Mt 27,1.
Lendo esta citação fora de contexto penso que efetivamente haverá gente simples que pensa que realmente foram os sacerdotes da Igreja Católica que mataram Jesus.
Talvez, por isso, alguns evangélicos olham tão mal os sacerdotes porque estão convencidos de que eles mataram Jesus!
Perdôo os que assim pensam acerca dos ministros da Igreja Católica, mas não confio em seu juízo nesta matéria.
Nesta carta quero responder aos que pensam assim esclarecer-lhes o que disse a Igreja Católica dos sacerdotes. Falar-lhes-ei com amor mas com um amor que busca a verdade, pois somente “a verdade tornará livres” (Jo 8,32).

1. O contexto bíblico

Devemos ler bem a Bíblia e não ficar agarrados a um só texto isolado. Com uma só citação bíblica fora de contexto podemos condenar a metade do mundo e ao mesmo tempo faltar ao mandamento mais importante de Deus: o amor. Por acaso o apóstolo não disse que a letra mata e o espírito vivifica? (2Cor 3,6).

2. Quem matou Cristo?

Devemos ter uma grande confiança na Igreja de Cristo em seus ministros, guiados pelo Espírito Santo. Jesus disse a seus discípulos na noite antes de morrer: O Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome para que os ajude e console, lhes ensinará tudo, e lhes recordará tudo o que Eu lhes disse (Jo 14,26 e Jo 16,13).O que vamos dizer dos que pensam que são os sacerdotes os que mataram Jesus? Disse Mateus: “Quando amanheceu todos os chefes dos sacerdotes e os anciãos dos judeus se puseram de acordo num plano para matar Jesus”.No contexto bíblico percebemos que o Evangelista Mateus se refere aqui aos “sacerdotes judeus” daquele tempo, isto é , aos sacerdotes da Antiga Aliança.É uma monstruosidade dizer agora que foram os sacerdotes da Igreja Católica os que mataram Jesus. Esta maneira de ler a Bíblia é uma manipulação descarada de um texto bíblico e não se reveste de nenhuma seriedade. É simplesmente uma ignorância atrevida e uma forma muito sutil, mas muito pouco cristã, de semear dúvidas e amedrontar o coração do povo simples.Creio que bastam estas poucas palavras para responder aos que pensam assim. Ainda que, se pensarmos bem, todos pusemos a mão na crucifixão de Cristo já que morreu por nossos pecados.

3. Jesus queria sacerdotes?

Outros riem dos sacerdotes da Igreja Católica e dizem que “Jesus não queria sacerdotes”.Nós católicos acreditamos: 1) Que Jesus Cristo é o único e verdadeiro Sumo Sacerdote. 2) Que todo o povo cristão, por vontade de Deus, é um povo sacerdotal. 3) Que dentro deste povo sacerdotal alguns são chamados a participar do sacerdócio chamado ministerial ou pastoral.Eu não invento isto. É a comunidade dos crentes, guiada pelo Espírito Santo e meditando longamente a Palavra de Deus, que chegou a esta verdade acerca de Cristo, sua Igreja e seus ministros.Guiados por este mesmo Espírito, leiamos a Bíblia:

Os sacerdotes judeus da Antiga

AliançaLendo bem as Sagradas Escrituras, percebemos que Jesus nunca se identificou com os sacerdotes da Antiga Aliança. Em seu tempo havia muitos sacerdotes judeus do rito antigo. Todos eles eram membros da tribo de Levi e estavam encarregados dos sacrifícios de animais no templo. Estes sacrifícios eram oferecidos para a purificação dos pecados do povo judeu (Mc 1,44; Lc 1,5-9). Até José e Maria, cumprindo este rito de purificação, ofereceram uma vez um par de pombas (Lc 2,24).Mas este sacerdócio judeu era incapaz de conseguir a santificação definitiva do povo (Hb 5,3; 7,27; 10,1-4). Era um sacerdócio imperfeito e sempre selado com o pecado. Jesus, o Filho de Deus, o homem perfeito, nunca se atribuiu este título de sacerdote judeu.

Participamos do sacerdócio de Cristo?

É verdade que a Igreja primitiva proclamou depois Jesus Cristo como o único e verdadeiro Sumo Sacerdote? Nós participamos do sacerdócio de Cristo?Efetivamente é assim. Mesmo que durante sua vida Jesus nunca usou o título de sacerdote, a Igreja primitiva proclamou que “Jesus é o Filho de Deus e é nosso grão Sumo Sacerdote” (Hb 4,14).O sagrado escritor da carta aos Hebreus escreve como quarenta anos depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo: “Jesus se ofereceu ao longo de sua vida ao Pai e aos homens, com uma fidelidade até a morte na cruz deu sua vida como o grande sacrifício de uma vez por todas, e seu sacrifício foi absoluto. O verdadeiro sacerdote para toda a humanidade é Jesus, o Filho de Deus, e agora não há mais sacrifício senão o seu, que começa na cruz e termina na glória do céu. Jesus é o único Sumo Sacerdote, o único Mediador diante do Pai e assim Ele terminou definitivamente com o antigo sacerdócio”. “Cristo entrou no Lugar Santíssimo, não já para oferecer o sangue de cabritos e bezerros, mas seu próprio sangue; e assim entrou uma só vez para sempre e nos conseguiu a salvação eterna” (Hb 9,12). Leia também: Hb 7,22-28; 9,11-12; 10,12-14.

Somos um povo sacerdotal?

É verdade que o apóstolo Pedro diz que nós, os crentes, somos um povo sacerdotal? Sim, Deus, em seu grande amor para com os homens, quis que todos os crentes batizados participassem como membros do Corpo de Cristo, do único sacerdócio de Cristo: Vocês também, como pedras que têm vida, deixem que Deus os use na construção de um templo espiritual, e na formação de uma comunidade sacerdotal santa, para oferecer sacrifícios espirituais, gratos a Deus por meditação de Cristo” (1 Pd 2,5). “Vocês são uma raça escolhida, uma nação santa, um povo que pertence a Deus” (1Pd 2,9).Assim, irmãos, pela fé e pelo batismo, Deus nos integra num povo sacerdotal. E como povo de sacerdotes, temos a vocação de oferecer nossas pessoas, nossas vidas, “como hóstia viva” (Rm 12,1). Em tudo o que fazemos com amor, em nossa família, em nosso povo, em nossos trabalhos, sempre exercemos este sacerdócio.

4. Jesus queria ter ministros para seu povo?

Sim. Não é a Igreja que inventou o ministério apostólico mas o próprio Jesus. Ele chamou os doze apóstolos (Mc 3,13-15) e os encarregou de serem seus representantes autorizados: “Quem os recebe, a mim recebe” (Lc 10,16).A missão dos apóstolos foi encomendada com estas palavras: “Eu lhes asseguro: tudo o que atarem na terra, será atado no céu, e tudo o que desatarem na terra, será desatado no céu” (Mt 18,18). Este “atar” e “desatar” significa claramente a autoridade de governar uma comunidade e esclarecer problemas do Povo de Deus. Na última Ceia, Jesus deu a seus apóstolos este mandato: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). É isto o que a Igreja celebra na Eucaristia.E em uma de suas aparições, Jesus soprou sobre seus discípulos e disse: “A quem perdoardes os pecados, lhes ficarão perdoados” (Jo 20,23).Dirigir, ensinar e administrar o sinal do Senhor, eis aqui a origem do ministério apostólico. Pouco a pouco a comunidade cristã vai aplicando e desenvolvendo este serviço apostólico segundo a situação de cada comunidade.

5. O que representam os bispos e presbíteros numa comunidade?

Nas cartas apostólicas do Novo Testamento os ministros da comunidade cristã recebem o título de “bispos e presbíteros” (At 11,30; Tt 1,5, etc.).A palavra bispo vem do grego e em português significa “o encarregado da Igreja”; a palavra presbítero significa em português “o ancião”. Os bispos e os presbíteros são assim os encarregados da comunidade dos crentes. Eles têm a função de servir, em nome de Cristo, o Povo de Deus. Estes nomes de “bispo e presbítero” vão evoluir até a função do sacerdócio ministerial. Mesmo que os apóstolos ainda não falassem de sacerdócio ministerial, esta idéia já estava em germe na Igreja Primitiva. E o Espírito Santo fez ver, pouco a pouco, que os bispos e presbíteros representam o Senhor, o Único Sumo Sacerdote, pelo ministério que exerciam. “Não nos proclamamos a nós mesmos, senão a Cristo Jesus, Senhor, e a nós como servidores seus, por amor a Jesus (2Cor 4,5-7).O apóstolo Paulo em sua carta aos Filipenses já usa certos termos para expressar seu sacerdócio apostólico: “E mesmo que deva dar meu sangue e sacrificar-me para celebrar melhor a fé de vocês, sinto-me feliz e me alegro com todos vocês” (Fl 2,17). “Bem sabe Deus quem dou culto com toda minha alma, proclamando a boa notícia de seu Filho” (Rm 1,9). Nestes textos há indicações de que a liturgia da Palavra e a entrega da vida do apóstolo já é uma função sacerdotal: “Em tudo, os ministros do povo devem ser não como os grandes e os reis, mas servidores como Jesus: como o que servo” (Lc 22,27).

6. Como se transmite este sacerdócio?

Este ministério apostólico se transmite com a imposição de mãos. O apóstolo Paulo escreve a seu amigo Timóteo: “Recomendo-te que avives o fogo de Deus que está em ti por imposição de minhas mãos” (2Tm 1,6; 1Tm 4,14).Este gesto de imposição transmite um poder divino para uma missão especial. O apóstolo Paulo recebeu a imposição de mãos de parte dos apóstolos (At 13,3). Paulo por sua vez impôs as mãos a Timóteo (2Tm 1,6; 1Tm 4,14) e Timóteo repetiu este gesto sobre os que escolheu para o ministério (1Tm 5,22).Assim a Igreja Católica, desde os apóstolos até agora, continua sem interrupção impondo as mãos e comunicando de um a outro os dons do ministério sacerdotal. Esta sucessão apostólica tão somente se perpetuou na Igreja Católica durante 20 séculos até chegar os ministros atuais. Nenhuma outra igreja pode dizer isto, somente a Igreja Católica. Desta forma, os pastores da Igreja participam do único sacerdócio de Cristo.

Queridos irmãos e amigos: Talvez seja um pouco difícil tudo o que lhes falei. Mas devemos na oração pedir que o Espírito Santo nos ilumine. Além disso devemos ter um grande amor para com a Igreja e seus ministros, que Jesus nos deixou. Para terminar quero resumir as idéias mais importantes desta carta:1) Jesus queria ter ministros (servidores) para seu povo sacerdotal.2) Os apóstolos transmitiram este ministério apostólico sempre com a imposição de mãos.3) Ainda que os escritores sagrados nunca usassem o nome de “sacerdotes” para indicar os ministros, já está em gérmen n o N.T. falar de um sacerdócio apostólico como um serviço ao povo sacerdotal.4) Neste sentido, é que a Igreja Católica, já desde o ano cem até agora, chama os ministros da comunidade (presbíteros e bispos) como seus pastores e sacerdotes. É claro que este sacerdócio pastoral participa do único sacerdócio de Cristo e não tem nada a ver com os sacerdotes do Antigo Testamento. Nós, os sacerdotes da nova aliança, por uma especial vocação divina somos os ministros de Cristo e dispensadores dos ministérios de Deus (1Cor 4).