sábado, 11 de outubro de 2008

Como estudar a Bíblia?

Como estudar a Bíblia?

Queridos irmãos:


Hoje em dia em muitas famílias católicas encontramos a Bíblia como o livro sagrado da casa. Oxalá que logo chegue o dia que cada católico seja um assíduo leitor da Sagrada Escritura.
Mas muitos que começam lê-la, depois de alguns capítulos deixam-na de lado por não compreender quase nada. Dizem que ler a Bíblia é difícil. É um livro tão comprido e às vezes difícil, especialmente para quem que sabe pouca história e pouca geografia, e não tem costume de situar o que lê em seu próprio contexto.
Também acontece que católicos, que começam a ler a Bíblia, se deixam levar por interpretações parciais, caprichosas e fanáticas que pouco a pouco levam-no a aderir, por mero sentimentalismo, a algumas das muitas seitas bíblicas já existentes, afastando-se, por ignorância, da Igreja Católica.
E não faltam os que querem ler a Bíblia inteira sem nenhuma explicação; ou tomam a Bíblia como um jogo de baralho abrindo o livro ao acaso, ou saltando por aqui ou por ali e pensam que Deus automaticamente lhes começa a falar. É um risco muito grande; é como tirar a sorte.
Para evitar estes perigos, não basta ler a Bíblia com fé e devoção. Deve-se juntar a fé, a oração e a devoção com o estudo. Ler a Bíblia sem uma adequada preparação é tentar Deus. Deve preparar-se para lê-la. Se não, pode acontecer qualquer coisa. A história de nossa fé é assim.
Queridos irmãos, esta carta tem como finalidade introduzir-nos no estudo da Bíblia. Hoje, mais do que nunca, devemos ter uma certa preparação para iniciar uma leitura séria da Bíblia. Para muitos, a Bíblia continua sendo um livro bonito fechado que enfeita nossa biblioteca. O problema é: como ler, como começar com este livro? Sempre foi difícil a iniciação da leitura da Bíblia. Exige de nós paciência, humildade, serenidade e uma certa disciplina intelectual.
Nesta carta vamos indicar-lhes alguns conselhos práticos para começar o estudo da Bíblia.

1. As melhores Bíblias

Muitas pessoas se perguntam como conseguir uma boa edição moderna da Bíblia Católica.Hoje, existem muito boas Bíblias católicas; nós lhes recomendamos a Bíblia de Jerusalém, a Bíblia Pastoral, a Ave Maria e outras.Dá pena ver gente ansiosa por conhecer a Bíblia e o faz com edições muito antigas, inclusive incompletas, sem introduções, sem comentários; ou com edições de bolso que são boas para levá-las a um passeio, mas não para fazer estudos sérios com elas.

2. Uma Bíblia de uso pessoal

Convém que cada pessoa tenha sua própria Bíblia onde livremente vá sublinhando os textos mais importantes ou mais significativos em relação com nossa vida de fé, com nosso seguimento de Cristo, com nossa vida de oração, de evangelização, etc. E inclusive, vai-se pondo anotações pessoais, inquietações originadas da paróquia reflexão e experiência pastoral, observações tomadas de cursinhos, retiros, livros... Só assim se aprendem as coisas, e com gosto.

3. Conhecer bem a própria

BíbliaAntes de estudar o texto sagrado, deve-se fazer um exame geral à edição de sua Bíblia; ver o que dizem os editores sobre o manejo do livro, ver como se citam os livros, que introduções há, que notas, mapas, ou temas especiais, etc. Isto pode economizar muito tempo e trabalho. Não há necessidade de anotar em cadernos ou papeizinhos coisas que já estão muito bem colocadas nas notas mais importantes.Assim por exemplo, a Bíblia Latino-americana põe uma espécie de introdução muito boa, intitulada: “Que houve no mundo antes da Bíblia?” Também tem um “Índice do Evangelho” bem prático e uma série de temas breves com o título de “O ensino Bíblico”, que podem ajudar muito. Além disso há outros temas.A Bíblia de Jerusalém, entre tantas coisas excelentes, traz quase no final uma sinopse

Os sacerdotes judeus da Antiga Aliança

Lendo bem as Sagradas Escrituras, percebemos que Jesus nunca se identificou com os sacerdotes da Antiga Aliança. Em seu tempo havia muitos sacerdotes judeus do rito antigo. Todos eles eram membros da tribo de Levi e estavam encarregados dos sacrifícios de animais no templo. Estes sacrifícios eram oferecidos para a purificação dos pecados do povo judeu (Mc 1,44; Lc 1,5-9). Até José e Maria, cumprindo este rito de purificação, ofereceram uma vez um par de pombas (Lc 2,24).Mas este sacerdócio judeu era incapaz de conseguir a santificação definitiva do povo (Hb 5,3; 7,27; 10,1-4). Era um sacerdócio imperfeito e sempre selado com o pecado. Jesus, o Filho de Deus, o homem perfeito, nunca se atribuiu este título de sacerdote judeu.

Participamos do sacerdócio de Cristo?

É verdade que a Igreja primitiva proclamou depois Jesus Cristo como o único e verdadeiro Sumo Sacerdote? Nós participamos do sacerdócio de Cristo?Efetivamente é assim. Mesmo que durante sua vida Jesus nunca usou o título de sacerdote, a Igreja primitiva proclamou que “Jesus é o Filho de Deus e é nosso grão Sumo Sacerdote” (Hb 4,14).O sagrado escritor da carta aos Hebreus escreve como quarenta anos depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo: “Jesus se ofereceu ao longo de sua vida ao Pai e aos homens, com uma fidelidade até a morte na cruz deu sua vida como o grande sacrifício de uma vez por todas, e seu sacrifício foi absoluto. O verdadeiro sacerdote para toda a humanidade é Jesus, o Filho de Deus, e agora não há mais sacrifício senão o seu, que começa na cruz e termina na glória do céu. Jesus é o único Sumo Sacerdote, o único Mediador diante do Pai e assim Ele terminou definitivamente com o antigo sacerdócio”. “Cristo entrou no Lugar Santíssimo, não já para oferecer o sangue de cabritos e bezerros, mas seu próprio sangue; e assim entrou uma só vez para sempre e nos conseguiu a salvação eterna” (Hb 9,12). Leia também: Hb 7,22-28; 9,11-12; 10,12-14.

Somos um povo sacerdotal?

É verdade que o apóstolo Pedro diz que nós, os crentes, somos um povo sacerdotal? Sim, Deus, em seu grande amor para com os homens, quis que todos os crentes batizados participassem como membros do Corpo de Cristo, do único sacerdócio de Cristo: Vocês também, como pedras que têm vida, deixem que Deus os use na construção de um templo espiritual, e na formação de uma comunidade sacerdotal santa, para oferecer sacrifícios espirituais, gratos a Deus por meditação de Cristo” (1 Pd 2,5). “Vocês são uma raça escolhida, uma nação santa, um povo que pertence a Deus” (1Pd 2,9).Assim, irmãos, pela fé e pelo batismo, Deus nos integra num povo sacerdotal. E como povo de sacerdotes, temos a vocação de oferecer nossas pessoas, nossas vidas, “como hóstia viva” (Rm 12,1). Em tudo o que fazemos com amor, em nossa família, em nosso povo, em nossos trabalhos, sempre exercemos este sacerdócio.

4. Jesus queria ter ministros para seu povo?

Sim. Não é a Igreja que inventou o ministério apostólico mas o próprio Jesus. Ele chamou os doze apóstolos (Mc 3,13-15) e os encarregou de serem seus representantes autorizados: “Quem os recebe, a mim recebe” (Lc 10,16).A missão dos apóstolos foi encomendada com estas palavras: “Eu lhes asseguro: tudo o que atarem na terra, será atado no céu, e tudo o que desatarem na terra, será desatado no céu” (Mt 18,18). Este “atar” e “desatar” significa claramente a autoridade de governar uma comunidade e esclarecer problemas do Povo de Deus. Na última Ceia, Jesus deu a seus apóstolos este mandato: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). É isto o que a Igreja celebra na Eucaristia.E em uma de suas aparições, Jesus soprou sobre seus discípulos e disse: “A quem perdoardes os pecados, lhes ficarão perdoados” (Jo 20,23).Dirigir, ensinar e administrar o sinal do Senhor, eis aqui a origem do ministério apostólico. Pouco a pouco a comunidade cristã vai aplicando e desenvolvendo este serviço apostólico segundo a situação de cada comunidade.


5. O que representam os bispos e presbíteros numa comunidade?

Nas cartas apostólicas do Novo Testamento os ministros da comunidade cristã recebem o título de “bispos e presbíteros” (At 11,30; Tt 1,5, etc.).A palavra bispo vem do grego e em português significa “o encarregado da Igreja”; a palavra presbítero significa em português “o ancião”. Os bispos e os presbíteros são assim os encarregados da comunidade dos crentes. Eles têm a função de servir, em nome de Cristo, o Povo de Deus. Estes nomes de “bispo e presbítero” vão evoluir até a função do sacerdócio ministerial. Mesmo que os apóstolos ainda não falassem de sacerdócio ministerial, esta idéia já estava em germe na Igreja Primitiva. E o Espírito Santo fez ver, pouco a pouco, que os bispos e presbíteros representam o Senhor, o Único Sumo Sacerdote, pelo ministério que exerciam. “Não nos proclamamos a nós mesmos, senão a Cristo Jesus, Senhor, e a nós como servidores seus, por amor a Jesus (2Cor 4,5-7).O apóstolo Paulo em sua carta aos Filipenses já usa certos termos para expressar seu sacerdócio apostólico: “E mesmo que deva dar meu sangue e sacrificar-me para celebrar melhor a fé de vocês, sinto-me feliz e me alegro com todos vocês” (Fl 2,17). “Bem sabe Deus quem dou culto com toda minha alma, proclamando a boa notícia de seu Filho” (Rm 1,9). Nestes textos há indicações de que a liturgia da Palavra e a entrega da vida do apóstolo já é uma função sacerdotal: “Em tudo, os ministros do povo devem ser não como os grandes e os reis, mas servidores como Jesus: como o que servo” (Lc 22,27).

6. Como se transmite este sacerdócio?

Este ministério apostólico se transmite com a imposição de mãos. O apóstolo Paulo escreve a seu amigo Timóteo: “Recomendo-te que avives o fogo de Deus que está em ti por imposição de minhas mãos” (2Tm 1,6; 1Tm 4,14).Este gesto de imposição transmite um poder divino para uma missão especial. O apóstolo Paulo recebeu a imposição de mãos de parte dos apóstolos (At 13,3). Paulo por sua vez impôs as mãos a Timóteo (2Tm 1,6; 1Tm 4,14) e Timóteo repetiu este gesto sobre os que escolheu para o ministério (1Tm 5,22).Assim a Igreja Católica, desde os apóstolos até agora, continua sem interrupção impondo as mãos e comunicando de um a outro os dons do ministério sacerdotal. Esta sucessão apostólica tão somente se perpetuou na Igreja Católica durante 20 séculos até chegar os ministros atuais. Nenhuma outra igreja pode dizer isto, somente a Igreja Católica. Desta forma, os pastores da Igreja participam do único sacerdócio de Cristo.
Queridos irmãos e amigos: Talvez seja um pouco difícil tudo o que lhes falei. Mas devemos na oração pedir que o Espírito Santo nos ilumine. Além disso devemos ter um grande amor para com a Igreja e seus ministros, que Jesus nos deixou. Para terminar quero resumir as idéias mais importantes desta carta:1) Jesus queria ter ministros (servidores) para seu povo sacerdotal.2) Os apóstolos transmitiram este ministério apostólico sempre com a imposição de mãos.3) Ainda que os escritores sagrados nunca usassem o nome de “sacerdotes” para indicar os ministros, já está em gérmen n o N.T. falar de um sacerdócio apostólico como um serviço ao povo sacerdotal.4) Neste sentido, é que a Igreja Católica, já desde o ano cem até agora, chama os ministros da comunidade (presbíteros e bispos) como seus pastores e sacerdotes. É claro que este sacerdócio pastoral participa do único sacerdócio de Cristo e não tem nada a ver com os sacerdotes do Antigo Testamento. Nós, os sacerdotes da nova aliança, por uma especial vocação divina somos os ministros de Cristo e dispensadores dos ministérios de Deus (1Cor 4).