sábado, 11 de outubro de 2008

Podemos ter imagens?

Podemos ter imagens?

Queridos irmãos católicos,

Quantas vezes temos ouvido esta acusação da parte dos nossos irmãos evangélicos: “Os católicos fabricam imagens para adora-las, enquanto que na Bíblia está estritamente proibido. Muitos irmãos nossos católicos não sabem o que responder, outros se deixam influenciar facilmente por estas meias verdades e alguns até sentem a tentação de tirar as imagens dos oratórios. Quero esclarecer-lhes este tema acerca das imagens, mas com a Bíblia na mão. Em primeiro lugar devemos fazer uma clara distinção entre uma imagem piedosa e um ídolo. A Bíblia sim proíbe energicamente o culto de adoração aos ídolos (falsos deuses), Ex 25,18, mas a Bíblia nunca proibiu as imagens “como sinais religiosos”, isto é, como representantes do Deus verdadeiro. A proibição da Bíblia se refere às imagens de ídolos ou falsos deuses não à proibição de fazer imagens como “enfeites religiosos”.

O que é um ídolo segundo a Bíblia?
Muitos anos antes de Jesus, no tempo de Moisés, Deus começou formar o seu povo escolhido, o povo de Israel. Era gente muito simples que Deus tinha tirado do politeísmo para conduzi-la ao monoteísmo. Todos estes povos antigos tinham uma infinidade de deuses, aos quais adoravam e representavam através de imagens de Baals, que tinham a forma de um touro, de um leão ou de outros animais. O povo de Moisés chamava essas imagens de “ídolos” ou falsos deuses. O povo daquela época pensava que estas imagens tinham um poder mágico ou uma força milagrosa. No fundo estes ídolos eram representações dos poderes ou vícios do próprio homem. Por exemplo, a imagem do bezerro de ouro que aparece em Ex 32, era a expressão da força bruta da natureza. Também podia representar a encarnação do poder sexual desorientado e transviado. E o ouro do bezerro significava o poder da riqueza que explora e esmaga o homem, isto é, o homem com seus vícios representados no bezerro de ouro, quer ser deus e não quer deixar lugar para o único e verdadeiro Deus. Deus chamou o povo hebreu para caminhar pela estrado do monoteísmo, deixando atrás os ídolos e dando a adoração ao Deus Verdadeiro. Mas os israelitas daquele tempo atraídos pelas práticas dos povos pagãos, queriam, às vezes, voltar ao politeísmo e à adoração aos ídolos. Então Moisés, inspirado por Javé-Deus proibiu-lhes estritamente fazer estes ídolos: “Não terás outros deuses além de mim, não te faças estátua, nem imagem alguma do que existe no céu nem na terra, nem te prostres ante estes ídolos”. Queridos irmãos, estes textos bíblicos são muito claros em sua proibição de fazer imagens ou estátuas de falsos deuses. Mas outra coisa muito diferente é aplicar estes textos às imagens “como enfeites ou sinais religiosos”. Estes sinais ou imagens piedosas nunca foram proibidos por Deus nem pela Bíblia.

Textos esclarecedores
A Sagrada Escritura sempre faz distinção entre imagens como “ídolos” e imagens como adornos ou sinais religiosos. Leiamos alguns textos nos quais Deus mesmo manda a Moisés fazer imagens como símbolos religiosos: “Farão dois querubins de ouro maciço, lavrados a martelo e colocá-los-ão nas extremidades do lugar do perdão, um a cada lado... ali me encontrarei contigo e te falarei desde o lugar do perdão, desde o meio dos querubins postos sobre a arca do Testemunho... (Ex 25,18-22). Estes dois querubins parecidos com imagens de anjos, eram enfeites religiosos para o lugar mais sagrado do templo. Pois bem, estas imagens feitas por mãos de homens, estavam no templo, no lugar mais sagrado e nunca foram consideradas como ídolos, pelo contrário, o próprio Deus ordenou construí-las. Leiamos outro texto do A.T. Números 21,8-9. Aí se narra como naquele tempo os israelitas murmuravam contra Deus e contra Moisés. Então Deus mandou contra o povo serpentes venenosas que os mordiam, de modo que morreu muita gente. Moisés intercedeu pelo povo e Deus respondeu-lhe: “Faze uma serpente de bronze, coloca-a numa haste e todo aquele que para ela olhar será salvo”. Percebemos outra vez que esta serpente de bronze era uma imagem feita pelas mãos do homem, não para ser adorada, mas somente um “sinal religioso”. Há outros textos na Bíblia que nos mostram como no templo de Jerusalém havia várias imagens ou esculturas que nunca foram proibidas e menos ainda consideradas como ídolos. Diz o Salmo 74,4-5: “Teus adversários rugiam dentro de teu santuário como lenhadores no bosque, derrubaram com machado as colunas e esculturas no templo”. Isto significa que no templo de Jerusalém havia também esculturas e imagens. Queridos irmãos católicos, essas indicações bíblicas são suficientes para dizer que a Bíblia, sim, proíbe, a fabricação de imagens como deuses falsos, ídolos, mas nunca proibiu as imagens ou esculturas como “enfeites religiosos”. Que ninguém, pois, venha incomodá-los por ter uma imagem ou enfeite em seu templo ou em sua casa. É por falta de conhecimentos bíblicos, ou por má vontade, que os irmãos evangélicos lhes colocam estas coisas na cabeça.

As imagens na vida diária
Tenho em minha estante por exemplo, uma foto de minha mãe que já está no céu; e contemplando esta foto me lembro dela. Inclusive posso colocar esta foto num lugar bem bonito e enfeita-la com uma flor e uma velinha... E se alguém vem a minha casa visitar-me e me diz, referindo-se à foto: “Que macaco mais feio”, claro que me sinto ofendido. Assim também temos quadros e imagens em nossos oratórios que representam algumas pessoas religiosas, como a Virgem Maria, a Mãe de Jesus, algum santo padroeiro de nossas cidades. E nenhum católico vai pensar que estas imagens são ídolos ou falsos deuses. Estas imagens simplesmente nos fazem pensar no próprio Jesus ou em tal ou qual santo que está na presença de Deus e nos ajudam a pensar na beleza de Deus. A Igreja Católica aceita o respeito e a veneração por estas imagens em nossos templos mas nunca ensinou a adoração a uma imagem. Às vezes, dizem os irmãos de outra religião que nós adoramos imagens. Estão muito, mas muito enganados e devemos, isto sim, perdoar-lhes suas expressões. A Igreja Católica aceita que guardemos imagens ou quadros nas nossas igrejas sempre que não seja de forma exagerada. O que quero dizer com isso? Quero dizer que, às vezes nossas igrejas parecem uma exposição de santos e em algum caso estão tão mal colocados, que não existe espaço nem para a imagem de Cristo.
Aí, sim, exageramos. Por isso o Concílio Vaticano pediu que não se repetisse mais de uma imagem de cada santo e que o lugar central da Igreja, sendo possível, esteja reservado para a imagem de Cristo. Está claro então, que nunca podemos dar culto de adoração a uma imagem, nunca podemos ficar de joelhos perante uma imagem para adora-la, mas sim podemos ficar de joelhos ante uma imagem para pedir perdão por nossos pecados e para pedir que o santo ou santa interceda a Deus por nós. Meus irmãos, em todas estas discussões, guardemos o amor. “Quem és tu para julgar o teu irmão? “ (Tg 4,12). Cada um pode ajoelhar-se em qualquer lugar para invocar a Deus, no quintal de sua casa, no campo. De noite antes de deitar qualquer um pode ajoelhar-se diante de um crucifixo para assim falar com Deus. Às vezes, há gente que pensa que tal imagem é milagrosa e lhe atribui um poder mágico. Devemos corrigir estas atitudes e explicar-lhes que somente Deus faz milagres. Aceitamos, porém, que Deus pode agir por intercessão dos santos. Irmãos: Não esmaguemos a fé dos nossos irmãos que talvez tenham pouca formação cristã, não critiquemos nem falemos mal dos outros. Ofender o irmão é um pecado muito grave. É triste constatar a linguagem ofensiva de nossos irmãos evangélicos para com os católicos. Procuremos devolver bem por mal. Martinho Lutero, o fundador do protestantismo e das igrejas evangélicas, nunca rejeitou as imagens, antes pelo contrário, ele disse que as imagens eram “o Evangelho dos pobres”. Quem de nós não gosta de contemplar um lindo quadro ou uma bela imagem? Muitas vezes olhando um quadro ou uma imagem podemos mais facilmente entrar em oração e num profundo contato com Deus. Quem pode negar, por exemplo, a beleza da Pietá de Miguel Ângelo? Pois bem, de acordo com os evangélicos deveria ser destruída, porque vai contra a Bíblia. Um erro incomensurável! Isto é fazer a Bíblia dizer o que nunca falou. Isto é uma distorção do que Deus nos quer dizer na Bíblia. Uma regra de ouro para interpretar a Bíblia é olhar sempre o contexto de uma frase e não apegar-se à letra, porque neste caso, sem o contexto, até se pode fazer a Bíblia dizer que “Deus não existe” porque a Bíblia põe esta frase nos lábios do tolo (Sl 10,4).

Os falsos deuses ou ídolos deste mundo moderno
Irmãos, os ídolos ou falsos deuses deste mundo moderno não se acham nos templos, mas são poderes que dominam o homem moderno por dentro. São poderes falsos que destroem as boas relações com o próximo e com Deus. Estes ídolos modernos estão, às vezes, em nossas ruas, em nossas instituições, comunidades e famílias. Esta é a idolatria que devemos desterrar. Penso, por exemplo, no falso deus do poder e da denominação que quer esmagar tua liberdade e enganar povos inteiros; no falso deus “poder” que provoca guerras e matanças de gente inocente. Este é o “ídolo” moderno que perambula pelo mundo. Penso no falso deus “dinheiro” que domina teu coração, que começa com mentiras, enganos, roubos, tráfico de drogas etc. e que parece que, em nome deste deus, tudo é permitido. Penso no falso deus do sexo desorientado, no deus que destrói a união familiar, no deus da paixão que engana o homem e a mulher, no falso deus que deixa as crianças desamparadas, no falso deus que destrói o verdadeiro amor, e que resiste a servir uma comunidade. O lugar onde estes falsos deuses são gerados está no nosso coração. É o demônio mesmo que quer destruir nosso coração como templo de Deus. E muita gente entre nós, sem perceber, está sob o poder destes falsos deuses e não dá lugar em seu coração para o único e verdadeiro Deus do amor. Irmãos, não devemos buscar ídolos e falsos deuses em coisas de madeira ou gesso, em imagens ou quadros, mas no nosso coração. Se Moisés voltasse hoje não falaria de imagens, pois hoje não temos o perigo da idolatria, porém gritaria: “Não fabriques falsos ídolos no teu coração, destrói os vícios fonte da toda idolatria”. Isto é o que já fizeram os profetas que vieram depois de Moisés. Assim, quando os evangélicos chegarem às portas de suas casas e lhes dizerem que os católicos são idólatras porque adoram as imagens, já sabem o que responder-lhes. A Bíblia, sim, proíbe os ídolos, os deuses falsos, as representações do mal... Mas nunca proibiu as imagens piedosas de Deus. Se fizer uma imagem piedosa ou prostrar-se ante uma imagem de Deus fosse algo mau, sem dúvida que Jesus no-lo teria dito. E Jesus nunca falou disto. Ao contrário, repetiu muitas vezes: “antes se disse... agora lhes digo” o que confirma a evolução entre o Antigo e o Novo Testamento. Apegar-se a uns textos do A.T. que proíbem fazer imagens de ídolos para argumentar contra quem hoje venera uma imagem piedosa de Deus ou de Maria, por falar pouco, é uma incongruência é desviar a atenção do que realmente é essencial da Bíblia. Por que não centrar a atenção em textos que são essenciais na Mensagem de Jesus, como o amor ao próximo, o primado de Pedro, a oração pela unidade de seus seguidores ou as palavras da Ceia? Não será que se repete aqui aquilo de “coar o mosquito e engolir o camelo?” Algumas seitas dão a impressão de que ficaram petrificadas no A.T. e só por ignorância ou má vontade podem dizer o que dizem. Isto é, se aferram a textos isolados, tiram-nos de seu verdadeiro contexto, e assim confundem os não iniciados na Bíblia. Isto é escandalizar, fazer tropeçar. Já o disse Jesus: Ai do mundo por causa dos escândalos. Portanto: não é correto tirar frases da Bíblia fora de seu contexto para fazer a Bíblia dizer o que nunca disse. Não é correto torcer o sentido dos textos bíblicos para convencer o outro de que sua fé Católica vai contra a Bíblia. Finalmente deve-se ter presente que no A.T. não se podia representar Deus porque o Verbo não tinha tomado corpo nem forma humana. Mas no N.T. é diferente. Com a Encarnação, o próprio Verbo encarnado tomou forma humana e nos mandou guardar sua memória.